domingo, 7 de dezembro de 2014

Viagem a Dois

 Me olhou da forma mais instigante que eu poderia imaginar.
 Foi aquele jeito meio que assim de canto de olho.

  Os olhos negros,
  o batom cor de cereja me permitia 
  imaginações que antes eu não ousaria.

 Criei um clipe na minha cabeça,
para nunca me deixar esquecer 
aquele momento que nos fora único.

 Cada estalo dos beijos que nos dávamos,
e todos os suspiros de desejo,
por todo o anseio que achávamos em nós,
o calor de nossos abraços,
a pressa com que chegamos em casa,
a delicadeza com a qual nos arrancamos as roupas...

 Éramos quase duas,
sendo nós apenas dois...

 Me fiz igual,
deixei que fizesse com meu corpo tudo 
o que tivesse vontade...

 Depois de tanto nos gastar,
logo que trocamos alma e 
no meio de tudo,
bem no intervalo, 
nenhuma palavra,
nos despedimos apenas por olhares...

 Fomos respeitados,
nossos desejos, limites,
vontades e despedida...

 Fui-me embora dali,
que não era uma casa como havia antes dito,
era mesmo uma parada no intervalo da estrada.

 Voltei, depois daquele dia,
todas as sextas e quintas feiras,
para encontrá-la, como havíamos nos decidido.

 Mas não me disse seu nome,
bem como nenhuma outra palavra,
não sabia seu telefone ou endereço.

 Quando perguntei ao garçom sobre
a tal mulher, ele me respondeu que aquela noite 
não acabara ainda, que eu nunca saíra daquele pub,
que ela nem falara comigo...
mas que me percebeu olhando-a por toda a noite,
sem me mover do meu lugar.

 _ É o encanto do olhar...
eu respondi, não havíamos mesmo trocado palavras,
ela nem descera do palco ainda,
mas seu olhar me permitiu,
sua voz me levou tão longe,
que eu nem percebi a noite passar.

 E quando ia embora,
pediu gentilmente ao garçom,
o mesmo com o qual eu troquei palavras,
para que me entregasse um guardanapo 
com uma pequena mensagem de agradecimento
pela viagem que fizemos juntos,
sem mesmo nos tocar...

 Ao passar por mim, 
deixou seu cheiro de perfume barato,
mas com o toque sutil e adocicado 
de sua essência natural.

 Me vi obrigado a ir atrás dela,
mas meu corpo não me respondia,
dei adeus contra a minha própria vontade...


                                            Théo.