quarta-feira, 20 de abril de 2016

Sobre desejar ficar pra sempre

E queria sair dali...
Mas ela era o feitiço
Que me rodeava,
Que me prendia ali,
Prisão voluntária.

Com a sua oferta
Do melhor vinho,
O disco tocando,
Uma voz rouca e aveludada
(A original)
E a outra que arranhava
(Seus arranhos sonoros,
Tentativas frustradas)
E a mulher na capa,
Debruçada, apreciava
Seu dueto involuntário
Com uma desconhecida
De afinação questionável,
Mas de ótimo humor,
E de uma liberdade,
De uma sensualidade convidativa...
A mulher descansava na capa,
Escorada na vitrola,
Que foi herança da avó...
E completava o convite
Com uma boa conversa (solo)
Como uma boa louca,
Falava sozinha,
E eu, ouvia acompanhada só,
Não me esperava dizer
Uma palavra sequer,
Nem aceitar, nem recusar...

"- Só fica..."

E tudo acontecia conforme
O enredo da noite levava,
Ela dizia e em seguida,
Obedecia ao que foi dito,
E eu era como uma boneca
Dentro da casa,
Adorando a brincadeira,
E adorando mais ainda
A sua criança,
Eu queria brincar também,
Mas me deixava conduzir
E paralisar ainda mais
A cada movimento espontâneo dela,
A cada novo detalhe
Que eu descobria...

Ela me tinha,
Sabia que eu só iria embora
Se eu desejasse ir,
Então tratou de me fazer
Querer ficar...
E eu me dei ao seu prazer...

Essa noite eu quero só ficar,
Como na súplica dela,
É o que basta...


            Ingrid Nogueira.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Da madrugada que me brilha

Sobre o escuro nada assustador:
 -Eu peco!
E danço com o Diabo
De saia rodada,
De salto alto
E de risada assombrosa...
Por que eu decidi que
O meu mundo
Brilha do meu jeito...

Num globo de vidro,
Uma cena congelada...
Eu sou a bailarina torta,
E o Pierrot desbotado...
Eu sou uma lágrima
Que desce lenta
E cai com delicadeza,
Que faz um estrondo
Ao tocar o chão...
Sou a navalha que corta os pulsos,
E também a mão de quem remenda,
Com paciência,
Os caminhos mal traçados...
Eu sou o amor
Eu sou o fracasso,
O sucesso e a ilusão...
O êxtase e
A morfina na veia.

Trago você pro mundo,
E da sua artéria,
Trago a vida,
Mixo lenta e novamente,
A sua pulsação explosiva...

     Ingrid Nogueira.

domingo, 10 de abril de 2016

Sobre periculosidades...

Na gangorra,
Eu balanço entre
As possibilidades de morte...

Balanço entre as possibilidades,
E discuto,
Numa luta de interesses mesquinhos,
Eu me rasgo,
Me dilacero,
Corto os punhos...

Tentativas inúteis!

Eu me deito n'um lugar
Que não é meu,
E me sento n'um lugar
Que não pertence a mim,
Eu como n'uma mesa
Que não me cabe,
Uso talheres que carregam nomes traçados,
Que nem ao mínimo
Parecem o meu...
E vivo me perguntando
Onde é o meu lugar,
E por que não saio a procurar...
Eu vivo remoendo,
E é uma vida baixa,
Uma vida pouca,
Que não emana,
Que não tem força...
Eu me sinto
Fria,
Eu me sinto nada,
Eu me assento
Por que não consigo me sustentar.

Eu me vejo ir,
Me sinto doer,
Eu quero gritar,
E nem voz pra isso eu sei ter...

Eu não me fiz crescer,
Eu me deixei domar,
E agora me dôo,
E remôo,
E não grito.

Como uma ovelha muda,
No matadouro,
Eu estou,
E me deixo enlouquecer,
E pinto as paredes,
Eu escrevo no teto
Que há em mim.

Me coloco numa caixa branca,
E me deixo fluir,
Por que eu me aguento a dor,
E me permito enlouquecer.

Mas não sei qual caminho trilhar,
Eu cresci com medo,
E agora não sei me virar.

Eu enlouqueço todos os dias,
Todo santo dia,
Todo o final do dia,
Eu grito,
E existem muitas de mim
Dentro de mim,
E não te deixo entrar
Na minha solidão,
Não bata na porta,
Não entre,
E ao sair,
Não bata a porta...
Eu sei o que eu
Escondo em mim.

Ingrid Nogueira.

Sobre ela: Erva dos dramas...

Venenosa,
E alucinógena...
Totalmente nociva.

Nociva ela, e nociva você...
À minha saúde mental,
E à minha saúde sentimental,
E à minha saúde psíquica...

E eu gosto desse perigo,
E preciso sentí-lo,
A adrenalina que corre
No meu corpo,
Me fez viciar em você.
Eu odeio amar,
O que em você,
Me faz morrer.

Ingrid Nogueira.

Da minha janela eu não vejo...

Nada!
Eu não olho mais através dela,
Desde que ela foi embora,
Eu pintei os vidros,
Um por um,
Parei de ver lentamente.

Por que ela era o motivo
De tanto eu espiar por lá,
A minha casa era a janela,
Minhas paredes eram de vidro,
Então pintei um horizonte novo,
Não mais vejo aquele "Belo"
Pelo qual ela costumava andar...
Por que ele já não é mais
Tão lindo,
Nem tão vivo...
Ele não sorri mais.

Os olhos dela não brilham mais por lá... Foi escolha minha:
Eu não vejo mais pela janela,
Por que eu não tenho uma...

        Ingird Nogueira.

Eu só nada por hoje...

Sobre ela me perguntar:
- Não, eu não estou bem...
Sobre o que aconteceu:
- Nada!

Nada de interessante,
Nada de intenso,
Nada de colorido,
Nada de quente...
É que por hoje eu sou um mar vazio,
Um imenso nada...
Eu só "nada"
E "nado" de braçada...
Por que não me interessa,
Eu não quero mais chegar...
 Não quero atender o telefone,
Não quero mais ouvir teu nome...
Se reparasse no que eu digo,
Saberia que bem eu estou
quando falar do mundo todo
ainda é pouco...
Mas hoje eu só nada.
O "in" me faz por hoje,
É que eu sou o avesso hoje,
Eu decidi estar do outro lado,
Insossa, só pra saber como é...
 Hoje eu decidi não ser,
E nem estar,
Eu vou apenas ficar,
Num espaço paralelo,
que de certa forma te ocupa o olhar,
Num tempo em que te tomo a observação...
Hoje eu vou me matar,
E cortar o meu rosto,
E me dar de bandeja ao que desejar,
Eu vou beber lágrimas,
Eu vou me embriagar dos confetes de carnaval.

Por que eu não quero ser vista,
Eu não quero ser compreendida,
Eu quero ser sentida,
Eu quero que você sinta a minha dor,
Quando parar e observar,
Por que eu te dei o meu sorriso,
E você o achou amarelado demais,
Eu escovei,
você achou torto demais,
e eu tratei...
Você achou certo demais,
desalinhei...
 Eu te fui tudo demais,
Pequei...

      Ingrid Nogueira.

Pára

Pára de só aparecer quando te convém,  Pára de voltar pra massagear o ego,
 Vê se esquece de uma vez, e logo,
que eu ainda existo.
 Deixe outras pessoas chegarem perto,
 Se mostre, talvez o seu monstro interior simpatize com os delas...
 Me deixa de uma vez quieta aqui,
 Esse canto é quente,
 Já guarda minhas marcas,
 Eu pixei,
 Pra ser vândala
 Eu pixei pra sentir a liberdade,
 Fui eu que pixei,
 Pra mostrar que eu posso fazer coisas que não agridem, mas os outros rotulam como "fora do normal"
E como quem tatua a pele a vê sangrar,
 Eu te tatuei em mim,
 E agora só,
 sou eu quem me vê definhar...
 Meu coração não é criança,
E já aprendeu a lidar com a sua falta,  Com a sua ausência decidida.
 Eu ainda sou moleque,
Apesar da barba e das contas pra pagar... Só por favor, PÁRA!!!
Pára de assombrar meus sonhos,
 Me deixa descansar...!
  Você não é mais o fardo
 Que eu achei bonitinho e quis levar... Mas sempre se deixa na minha porta, dentro de uma cesta e pede pra voltar... Só não se deixa mais aqui.
Que eu não vou mais aceitar...

  Ingrid Nogueira.

Das coisas mínimas...

Saber da risada
Só pra sentir falta...
Entender o mistério
Só pra se intrigar...
Beijar a risada
Só pra não parar...

É que me ligo tanto
Nas coisas pequenas,
Reparo no que
Não se precisa dizer...
Os sinais que me fazem prender,
Que são "simples",
Que talvez faça com que os outros percam a graça...
Até o jeito como ignora a minha presença,
Charme negado,
O aperto na nuca,
Mesmo que estivesse de burca,
Que os olhos não taparia,
E me faria afogar no negro
Do mistério,
Na profunda e penetrante inconclusão...
Fico inquieta com
Seu fatos bobos,
Com suas manias simples,
E seu irritantemente igual...
Me chama a atenção a risada e até mesmo a concentração...
A falta de graça quando descanso os olhos em você...
O problema é que me ligo fácil...
E você vai embora,
Como todos sempre vão.
Vai descobrir que eu era legal e engraçada no começo,
Mas que não sou lá tão especial...
E quando meter o pé pelo mundo,
Vou estar aqui,
Mais uma vez,
Lembrando das irritâncias,
Das manias,
Dos simples,
E dos mistérios,
Mais essa vez  ficarei...

Sofro de gostar-de-estranhezas...
De minimalidades...
De souvenirs pessoais...
É que brinquei de destrinchar...
Gostei do que achei.
Me perdi no ficar.

 Ingrid Nogueira.