terça-feira, 7 de junho de 2016

Visão distorcida, longínqua...

Eu te via AURORA
Mas você era só
Uma MANCHA DE ÓLEO
No chão molhado...

O problema com a minha impressão de você,
É que é uma ideia de você que eu criei,
E você não atende às expectativas,
Você é pouca...


Eu não sei no que eu acredito sobre você,
Eu prefiro imaginar você moleca,
Mas você agora é indefinida.

Não é meio de caminho,
Não é início de caminho,
Não é o final dele...
Você é intercessão dele,
Passa e não se importa,
Toca, muda, e não se lembra.

Você não dá a mínima,
Por que a sua "liberdade",
A sua "vibe",

Te deixa aleatória,
Pipa avoada,
E eu sou a menina que fica...


Como conta no seu corpo,
Histórias que você escreve,
E finge que não vê.



      Ingrid Nogueira.

À um Corazón Negro que me fez calar...

Sinto minhas mãos se desfazendo,
Sinto que delas escorre toda a minha poesia.
Sinto que te perco a rima,
Eu sinto que te perco...


E te vejo indo
Sem olhar pra trás,
É o que me dói.
Eu escorro na imagem,
No espelho,
Eu escorro pelo ralo,
E pela pia no banheiro,
A cada passo que eu deixo pra trás,
Me deixo ficar,
Me desfaço,
Deixo rastros...


Eu me derreto,
Não tenho forças pra ficar,
Nem pra tentar.

E o que fica,
É meu coração inteiro,
Numa porcelana,
Dependurada num colar.

Que antes eu carregava,
E um dia eu te deixei.

Você se foi
E se desfez,
Deixei pendendo nos ossos
Do meu peitoral,
Por dentro deles,
Ficava vazio,
E quando eu andava,
O sentia pender,
E colidir,
Hora contra o vazio,
Hora contra os ossos que o detém,
Num ato de rebeldia,
Auto rebelião...


E agora que me acabo,
Ele é o único que
Me fica inteiro,
E a casa fica com
O meu cheiro,
Me deixo essência.


         Ingrid Nogueira.

Eu não vou parar!

Nem por um segundo,
Nem por uma pedra no caminho,
Eu não vou parar,
Porque o movimento me mantém.
Eu me deixo respirar,
Enquanto não paro,
Sossego a alma.

Me deixo aprender
Com as passadas largas,
Com as aceleradas do coração,
Com a adrenalina correndo nas veias.

Com o perigo de não parar,
Com os riscos dos movimentos,
Que me são contínuos,
Mas nunca constantes.

E te ensino a viver,
Te mostro as luzes,
E te faço entender.

O mundo é único,
E viver o novo não dói,
E quando sim,
Nós dissimulamos,
A dor é nossa e
Não cabe à mais ninguém,
A decisão é sua.

Eu não vou parar!

Ingrid Nogueira.

Ela tem olhos grandes

Eu te encontro
Nos olhos da noite,
E ela tem olhos grandes.


Te encontro
Na agonia dos gritos
Sentidos da noite.

Te encontro
E gosto do que eu vejo
Porque não te deixas
Inundar pelo que te rodeia.

Te encontro
E me encanto
E me perco
E não tenho mais um caminho
Eu esqueço completamente
Dos planos.

Te encontro no escuro,
E és fresta de luz,
E te ouço agonias,
E me és calma...


Eu te encontro
E te desejo
E deixo,
Porque és muito mais
Do que eu posso
Levar comigo,
A gente se encontra
Por aí afora,
Pelo caminho,
Na aurora.

Ingrid Nogueira.

Ah quem dera...

Se a luz do Sol
Me aquecesse a pele
E me inspirasse a caminhada...


E se no meio da caminha
Ao Sol eu te encontrasse,
Se a gente se tromba
Na rua, ou na praça...


Se o seu sorriso me encanta,
Eu me estrepo,
Eu me arrebento por te admirar
E deixar tudo mais ao aleatório.
Eu deixo as regras de convivência,
Os "Olás" superficiais,
As regras subentendidas de circulação...


Eu esqueço a minha música,
No fone,
No último volume...

Você é o meu mundo
Naquele instante.

E depois do sorriso,
Me vais,
E me escorre pelas mãos,
Me desliza e
Me some pelas ruas...


E se, à noite, a Lua
Com suas carícias carentes,
Me fizesse sair do meu lugar,
E ir ler Ginsberg na mesma praça...


E se lá,
Eu ainda te encontro,
E tento com os olhos
Te fazer afagos doces na mente...


E se, aí do outro lado
Você me olha,
E me sorri em
Olhos de estrelas novas,
Que nem o negro Universo
pode ofuscar...


Se tudo isso me acontece,
Serias minha e não mais sua,
Tendo em vistas sãs,
Que te fiz minha
Sem te roubar,
Te fiz minha sem te prender,
És minha, porque eu te amo
E nada se passa paralelo à isso...


Ingrid Nogueira.

Eu quero a sua nudez pura

Eu quero tirar tudo de você devagar,
Tudo o que te veste,
E te cobre do meu olhar,
Tudo o que te limita me transbordar,
O que te deixa incômoda ao me transpassar...

Traços de mulher

Eu te quero livre,
E um sorriso estampado,
Daqueles que já se sabe à que veio...


Eu quero a sua nudez pura,
Livre e sincera,
Despreocupada e originalizada.

Eu quero o cheiro da liberdade que paira em você,
E quero a leveza do seu toque,
E a gentileza ao me chegar.

Quero pactos silenciosos entre nossas peles,
Nossas almas,
Que conversam ao se tocar.

Quero as protuberâncias das cicatrizes,
Das celulites,
Dos ossos e das curvas do seu corpo
Se apresentando ao meu.

Quero a cumplicidade de
Ter você inteira pra mim,
De me dar inteira pra você,
Sem pensar no amanhã,
Sem pensar em consequências e
Obrigações sociais depois.

Eu quero o "Oi!"
O êxtase,
E o "Tchau!"

Com ou sem beijo estalado,
Quero o seu suor sagrado nos meus seios...


As suas mãos lendo
As minhas linhas,
As minhas curvas...


Te quero inteira quando me vier.
Quero o seu riso sincero,
De menina,
E o seu contorcer de mulher,
Sua gargalhada culta,
E seu revirar de olhos diabólico.

Te quero inteira,
Mesmo que antes aos pedaços...
Te quero minha,
Mesmo que depois
Aos fiapos.

Ingrid Nogueira.

Neutralizador... Ou nem isso serve

Sinto a sua falta,
Tomo um anticonvulsivante,
Durmo.
Amanhã o dia é outro...

Eu não sei ignorar o meu pensamento sobre você,
Eu não sei ignorar você,
Eu não sei você...

E essa agonia me mata aos poucos,
Me afogo em tudo o que eu sinto,
Me escondo no sono
(Ainda que induzido)

Te neutralizo acordada,
Pra ter que fugir de você em sonhos.

Eu fujo de você.
Ingrid Nogueira.

Invisível exuberante

Estou entalada
Com um universo
Atravessado,
Ele rouba de mim
A voz, já muda...

É que você não vai entender nada,
E a sociedade não vai dar o braço à torcer,
E eu não vou me submeter...


Eu me cansei de você,
Cansei de arremeter,
Eu me cansei de me conter...


Nunca fui de me prender,
Não tem por quê te prender,
Você é como um pássaro,
De quem eu ouço o canto,
Mas a quem não quero ver...


Eu não sou de agora,
Eu sou o futuro,
E nada aqui está preparado pra mim...


Eu vou apagar a luz,
Fechar as janelas,
A alma não vai mais fazer morada,
Vou viajar,
E não quero mais ficar,
Nem pertencer,
Eu quero manter...


Que fique aceso,
Que esteja aberto,
Mas que não escape...


Ar fresco, mulher,
Ar fresco
De uma brisa leve,
De um sentimento exposto...


E que se foda a sociedade,
Como tem feito desde a primeira "civilização"...


Ainda anda em círculos,
E não se sobe uma escada em ziguezague...


Ingrid Nogueira.

Do amor nada

Eu que não sei
Nada do amor,
Tento te descrever...
Mas você tem um
Mistério no olhar
Que me prende...

E eu não consigo proferir
Nenhuma palavra,
Eu passo a desconhecer
Qualquer detalhe
Da mais básica gramática...


Eu engulo a minha voz
Me petrifico nos teus olhos,
Me deixo esperar.

Como no olhar de Monalisa,
Me segura a atenção,
E me atrapalho nas palavras,
Tropeço nas poucas bolhas
De ar que eu permito sair da minha garganta.

Afogo na água
Que me foge da boca,
E por todos os póros,
E orifícios de fuga,
E me transbordo de você...


Eu não sei nada de me deixar,
E não sei nada de você,
E isso é o que me faz
Te procurar,
E me empurra à sua beira de ser,
A sua defesa do mundo,
Sua desconfiança,
O seu "não-saber"
Ou o "não-querer"
Ou até mesmo o "saber-muito-bem-de-si"...


Não me preocupo
Em saber nada do amor,
E de você me intriga a mente,
Mas você se mantém distante,
Tenta se proteger do mundo,
Mas eu não faço parte dele,
Eu posso ser o seu aquário se você quiser,
Pra não ficar sem lugar,
É só que eu quero saber de você,
Sem ter que necessariamente,
Te ter... 


Não pretendo ter a sua posse,
Não quero ser sua dona,
Quero compartilhar da sua liberdade,
É só o que eu sei ver,
Por cima da água doce
Que me enche a alma...


Água de Oxum,
Que me enche,
Me lava,
Me guarda,
Me dá vida
E me protege,
Da minha mãe que
Me acalanta
Quando não sei de mim...



Ingrid Nogueira.

Eu sou um cubo de gelo

Sou fria sim!
É meu direito.
Sou um cubo ambulante de gelo,
E não devo calor à ninguém.
Eu sei controlar
A temperatura do que eu sinto,
Sou dura e fria,
E se eu sou assim,
É direito meu!

E como uma pedra de água sólida,
Se o que me vier de encontro
Me aquecer,
Me deixo derreter.

Me mantenho como
O ambiente me favorecer,
Quando me deixei maleável,
Fui bebida, fui cuspida,
Passei em corpos
Onde não fui notada,
E onde eu reguei,
Nasceram flores,
Com cheiro de maturidade.

Aprendi a ser garoa
Quando arriscar chover,
Aprendi a gotejar
Quando perceber que algo dali pode brotar,
Aprendi a me conter quando
Desnecessária a explosão,
Aprendi a ser rio manso
Quando na tempestade um trovão me gritar,
Aprendi a respirar,
Quando numa gruta eu achar sossego...

E aprendi a me manter
Quando nos Icebergs
Do amor, a dor parar o meu coração...

Eu sou um cubo de gelo
E eu não me sinto na obrigação
De estar branda porque
O SEU momento me pede
Um carinho,
Um calor,
Um cuidado...

Porque meu amor
Não se mede pela sua vontade.

Ingrid Nogueira.

Sobre molecagens...

Eu gosto de brincar
Na chuva,
E gosto de dar risada alta...

Eu gosto do que não faz muito sentido...
Eu gosto do que se sente
Mas não se explica.

Eu gosto da liberdade
De não pertencer...

Eu acho que nem sei mais beijar,
E talvez nem faça isso de novo,
E não me importo com isso...

Eu só gosto da não-obrigação

E quero não ter que ter postura,
E quero não ter que ter um nome...
E não ter que ter um amor...

Por que eu sou amor,
Por que eu sou a liberdade,
Eu caibo em mim,
E caibo nisso,
E não preciso usar palavras complicadas,
Eu não preciso enrolar a sua mente.

Por que o simples é bom,
Ruim é não entender.
Eu não ligo pra quem não entende,
Só ligo pra quem ama,
Eu gosto da essência,
Eu sou essência,
E me dou, sem ter que haver uma troca,
Por que eu não gosto das obrigações,
Não gosto de imposições,
E quero amar,
Sendo livre. 


      Ingrid Nogueira.