quarta-feira, 20 de abril de 2016

Sobre desejar ficar pra sempre

E queria sair dali...
Mas ela era o feitiço
Que me rodeava,
Que me prendia ali,
Prisão voluntária.

Com a sua oferta
Do melhor vinho,
O disco tocando,
Uma voz rouca e aveludada
(A original)
E a outra que arranhava
(Seus arranhos sonoros,
Tentativas frustradas)
E a mulher na capa,
Debruçada, apreciava
Seu dueto involuntário
Com uma desconhecida
De afinação questionável,
Mas de ótimo humor,
E de uma liberdade,
De uma sensualidade convidativa...
A mulher descansava na capa,
Escorada na vitrola,
Que foi herança da avó...
E completava o convite
Com uma boa conversa (solo)
Como uma boa louca,
Falava sozinha,
E eu, ouvia acompanhada só,
Não me esperava dizer
Uma palavra sequer,
Nem aceitar, nem recusar...

"- Só fica..."

E tudo acontecia conforme
O enredo da noite levava,
Ela dizia e em seguida,
Obedecia ao que foi dito,
E eu era como uma boneca
Dentro da casa,
Adorando a brincadeira,
E adorando mais ainda
A sua criança,
Eu queria brincar também,
Mas me deixava conduzir
E paralisar ainda mais
A cada movimento espontâneo dela,
A cada novo detalhe
Que eu descobria...

Ela me tinha,
Sabia que eu só iria embora
Se eu desejasse ir,
Então tratou de me fazer
Querer ficar...
E eu me dei ao seu prazer...

Essa noite eu quero só ficar,
Como na súplica dela,
É o que basta...


            Ingrid Nogueira.