terça-feira, 24 de julho de 2018

Nada anda funcionando,
eu ando em estado não sóbrio,
mas também não ébrio.

Minha ressaca anda doendo,
anda sendo do cansaço,
do trabalho, da leitura,
da falta de tempo,
e do excesso de pensar.

A ressaca anda vindo
de dentro de mim,
sem precisar colocar
química nenhuma,
não há descanso,
eu ando não produzindo.

E ando angustiada,
fria, ferida.

Meus becos andam molhados,
chuva artificial,
meus mares andam secos,
solos rachados.

Nada tem sido
verdadeiramente fértil,
nem a mente.

Eu ando me apaixonando,
e é platônico,
eu não devia me apaixonar,
ela me avisou do risco,
mas não havia nada mais a fazer,
a não ser o me afastar,
ou o fingir.

Escolhi o mais difícil,
porque eu não me deixaria
voltar ao ponto onde
você não me via.

Então decidi morrer
a dor,
mesmo que profunda,
ainda foi mais curta.

Eu sou inútil
mas ela diz que não,
e eu não acredito.

É como eu me sinto.

Não quero que ela amenize
a minha solidão,
nem a podridão,
e menos ainda a inutilidade.

Sinto que preciso escrever
mas não sei o que colocar aqui.

Perdi a intimidade com as palavras.

Ou seria com os sentimentos?

Os sentires não me encontram mais.

Tem gente brava comigo,
o meu coração arrepia de saber.

Tem energia acumulada
e o peito dói,
não tem mais incenso,
nem o cigarro disfarça.

Choro.

Chóro!

Vem ali o desespero,
e eu me desespero,
eu me proponho,
mas uso máscaras,
o peito ainda dói.

A morte não me rodeia,
e ainda assim,
também não a vida.

Eu tiro a morte pra dançar,
e a vida inveja...

Eu não quero laços que me deixem dívidas,
eu quero relações estreitas,
e firmes,
e nada mais firme que
a relação com La Muerte...

Nada mais atraente e perigoso,
a vida tem um cheiro enjoado,
um cheiro triste,
um ar denso...

E eu não gosto desse ar frio...

            Ingrid Nogueira.

Hoje eu me senti a pior pessoa do mundo,
eu penso coisas que me fazem ter nojo e medo de mim.

Hoje eu fui tomar banho,
e coloquei o chuveiro no máximo,
a intenção era  mesmo derreter,
o calor me machucava a pele,
mas nada de desaparecer.

Os meus pensamentos andam mais imundos
do que qualquer das vezes nas quais
eu me sentei frente a esse mesmo computador,
eu me toquei que cada vez que
eu me sento aqui,
eu estou um tanto mais suja.

E que os intervalos entre essas vezes
são cada vez maiores,
então talvez esteja aí a resposta...

Ou eu ando mais feliz,
ou ando cada dia fingindo mais.

O que não quer dizer que eu
finja melhor hoje do que nas vezes anteriores.

Tenho andado distraída,
mais do que nos outros dias,
mais até do que em outras vidas.

E já entendi porque ando voltando,
o motivo de ainda renascer aqui...

É que eu peco por antecipação,
peco por urgência,
e peco por dor...

Eu sei que é inconsciente,
mas eu me culpo,
tem doído,
e sigo chorando,
mas mainha me diz sempre p'rêu voltar...

Eu não posso trilhar outro caminho
enquanto não aprender,
mas a lição dói,
é difícil,
agora eu lembro da dor
e lembro da sensação...

É que em outra vida eu fui até o fim,
a cabeça dói sabia?
O pulso, a veia, o pulmão,
a pupila te deixa cego,
deve ser pra não ver a despedida,
deve ser pra não enxergar o rosto
da sua mãe mais essa vez...

Não tem frio não,
isso é mentira,
mas tem o vazio,
tem o choro,
tem a angústia...

E eu não quero mais essa chance,
mas parece que alguém lá da diretoria não entende...

Eu não quero voltar,
não tem nada de novo aqui,
tenho os surtos,
tenho os desapontamentos,
tenho os amores,
e deles as tristezas, as traições,
os enganos...

O amor é frio,
não é nada bonito,
eu lembrei que vim buscar companheirismo,
mas tem muita gente aqui,
e isso me assusta,
gente é ameaça,
eu quero é minha companheira.

E quero que ela me queira,
meu peito anda cansado,
meu cérebro sem oxigenação,
eu ando mirrada,
eu ando não sendo minha companheira,
eu ando me machucando,
e me abandonando,
e dando o mesmo direito,
eu ando me enganando,
e que direito eu penso que tenho
de exigir que não me façam o mesmo?

Eu me deixo doer,
melhor ainda:
eu me faço doer,
eu sou dor e tristeza,
eu ando mirrada,
triste, feia, murcha...

E a poesia voltou a se alimentar de mim,
de todos os meus podres,
de todos os meus galhos mortos,
de todos os meus frutos podres,
depois dos azedos,
da minha folhagem, do meu corpo
e das minhas raízes,
eu desisti.

Mas como a uma semente,
ela me faz brotar,
mas eu não quero mais voltar...

Prendi o ar.

                    Ingrid Nogueira.