quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Verdade, Uma ilusão, Amor, Uma invenção

Eu escrevi isso aqui
por querer xingar

Só porque eu não posso falar

E até queria rezar pela sua alma podre

Mas acontece que eu não sei
Eu cresci longe da sua religião

Eu cresci longe do seu sorriso
Ele me intoxicou

Eu não sei qual parte disso
me fez mais mal...

Sua boca expele o pior veneno
Sim,
Sua risada encarcera
Suas palavras enganam
Sua reza não pode te salvar

Suas palavras de nada servem
Nenhuma delas tem valor

E quando um dia alguém tenta,
pela tentativa que tende a ser frustrada,
Te dar algum valor,
Você não inibe
Você não avisa
Você machuca

E não há céu que perdoe tal pecado,
E não há inferno pra você

Não existe lugar pra você
Nessa vida
Nem em qualquer outra

Os lugares não gostam de gente podre
De fruto podre
De coisas que perfuram

O amor não faz nenhum sentido
já dizia Baco,
nem ele creditava mais

Amor machuca
E nem tem forma
Ele só existe
Porque você se faz acreditar,
e com isso
também me engana

Eu escrevi isso aqui como penitência
Mas eu nem acredito em pecado

A sua verdade é vã

Eu não acredito mais nela
Foi ela quem me fez doer a esse ponto,
Foi você

E era tudo premeditado
Eu caí aqui nesse vazio

E no fim,
Tá tudo acabado

Não existe dor,
Não existe sofrimento
Por que era tudo ilusão
Era tudo um reflexo ruim do amor
Que você criou

                       Ingrid Nogueira.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Eu fui roubado,
mas fui eu quem deu...
Roubo sim,
palavra forte pra um ato
de força igual.

Era invasão,
mas eu cedi
não era a intenção inicial,
mas eu me rendi.

Os dedos me invadiam,
sem querer,
eu a invadi,
causei choque
ela é enxurrada,
eu me molhei,
não era hora.

Eu era verde demais,
ela madura,
era verde demais,
ela veneno.

Doía.

Eu fui embora,
mas não é justo,
ela tá feliz,
e eu julgo culpada.

Engano,
falsidade comigo,
ego consigo...

Futuro fadado ao desespero,
eu amaldiçoei,
nada de amor,
ela vai chorar.

                          Ingrid Nogueira.

Era um pacote duro e frio,
 que estava ali...
Era noite.
E pela manhã, o socorro chegou.
 Mas era tarde já,
Jogado no canto da calçada estava,
 Foi ali que o encontraram..
Coitado corpo,
 Cortado o corpo,
E por toda a noite eu o vi...
Eu o assisti desde o começo,
 Eu testemunhei o início,
E foram dias cheios,
 Dias longos,
Foram quentes os seus dias...
E eu testemunhei o fim também...
Mas ninguém me viu por aí...
 É que quando a gente desgarra do corpo
As pessoas costumam mesmo não ver.
Mas aquela moça me viu,
 Ela me sentiu,
E sentiu, e viu...
 Me deixou mostrá-la o que comigo se passou.
É, eu era o cadáver,
 O corpo morto,
Gélido,
 Frio,
Duro e sem cor...
E antes disso, ela havia me visto,
me deixou me apresentar a ela,
e era a única pessoa que realmente me via,
ela me olhava nos olhos
ela sabia o quanto eu existi...
Foi ela quem me fez realmente existir,
e que me ensinou a não só estar aqui,
e agora eu morri,
e não consigo lhe lembrar os olhos,
sei bem qual é a sensação de tê-los dentro dos meus,
mas não sei mais do formato,
nem da cor...
Mas sei dos dois grandes vazios,
da cavidade que eles formavam dentro dos meus,
pra me entender cada detalhe...

Outra Maria


  Maria,
coitada!

 Coitada da pobre mulher
na qual a Maria se tornou...

A rotina,
 a lembrança,
  a memória...
O corpo reclama.

E a cabeça também!
A cabeça principalmente,
reclama e dói,
todos os dias,
sem intervalos,
e não melhora nem com analgésicos...

 É que a dor na cabeça
é de tanto tentar entender os outros,
que também não a entendiam
 (mas as suas cabeças não doíam)...

 E a Maria não entendia...

 Maria não tem ninguém,
ela não tem nem o amigo
que há alguns dias a vinha visitar...

(A solidão dói!)

 Ele também foi embora,
e ela não entendia o porquê,
e não entendia também porque
todos diziam que ela via coisas.

 Maria o via,
e ele existia.
 Era tão nítido,
porque os outros insistiam em dizer
que ele não existia?

 Maria estava velha,
e sozinha,
não tinha filhos,
e nem amor
Maria não sabia o que queria,
não era nem uma velha ranzinza...

 Maria nunca soube o que fazer,
e nunca soube o que falar,
 Maria emudeceu ao ver que
a vida é grande demais...

 Ela passou a vida inteira
calada, quieta,
o silêncio era quente,
era aconchegante,
era o lugar onde ela se sentia acolhida.

Foi então que o seu amigo veio,
quando Maria abraçou o silêncio,
porque ele também era segredo,
assim como a felicidade,
e a dor...

Maria era fã das coisas secretas,
ela era agora uma mulher dos segredos,
das coisas pagãs,
e místicas,
e reais o bastante para doerem.

Maria via,
e sentia,
e sofria,
mas caladinha,
nos sonhos...

Maria não queria que fossem sonhos
e ela não chorava.

Estagnada,
era como ela definia
uma pessoa que não sabia ficar em silêncio,
Maria matava as pessoas que eram estagnadas,
não na sua cabeça,
Maria andava um tanto assassina

Então foi internada,
e morou no silêncio
até não mais morar.

Ingrid Nogueira.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Nada anda funcionando,
eu ando em estado não sóbrio,
mas também não ébrio.

Minha ressaca anda doendo,
anda sendo do cansaço,
do trabalho, da leitura,
da falta de tempo,
e do excesso de pensar.

A ressaca anda vindo
de dentro de mim,
sem precisar colocar
química nenhuma,
não há descanso,
eu ando não produzindo.

E ando angustiada,
fria, ferida.

Meus becos andam molhados,
chuva artificial,
meus mares andam secos,
solos rachados.

Nada tem sido
verdadeiramente fértil,
nem a mente.

Eu ando me apaixonando,
e é platônico,
eu não devia me apaixonar,
ela me avisou do risco,
mas não havia nada mais a fazer,
a não ser o me afastar,
ou o fingir.

Escolhi o mais difícil,
porque eu não me deixaria
voltar ao ponto onde
você não me via.

Então decidi morrer
a dor,
mesmo que profunda,
ainda foi mais curta.

Eu sou inútil
mas ela diz que não,
e eu não acredito.

É como eu me sinto.

Não quero que ela amenize
a minha solidão,
nem a podridão,
e menos ainda a inutilidade.

Sinto que preciso escrever
mas não sei o que colocar aqui.

Perdi a intimidade com as palavras.

Ou seria com os sentimentos?

Os sentires não me encontram mais.

Tem gente brava comigo,
o meu coração arrepia de saber.

Tem energia acumulada
e o peito dói,
não tem mais incenso,
nem o cigarro disfarça.

Choro.

Chóro!

Vem ali o desespero,
e eu me desespero,
eu me proponho,
mas uso máscaras,
o peito ainda dói.

A morte não me rodeia,
e ainda assim,
também não a vida.

Eu tiro a morte pra dançar,
e a vida inveja...

Eu não quero laços que me deixem dívidas,
eu quero relações estreitas,
e firmes,
e nada mais firme que
a relação com La Muerte...

Nada mais atraente e perigoso,
a vida tem um cheiro enjoado,
um cheiro triste,
um ar denso...

E eu não gosto desse ar frio...

            Ingrid Nogueira.

Hoje eu me senti a pior pessoa do mundo,
eu penso coisas que me fazem ter nojo e medo de mim.

Hoje eu fui tomar banho,
e coloquei o chuveiro no máximo,
a intenção era  mesmo derreter,
o calor me machucava a pele,
mas nada de desaparecer.

Os meus pensamentos andam mais imundos
do que qualquer das vezes nas quais
eu me sentei frente a esse mesmo computador,
eu me toquei que cada vez que
eu me sento aqui,
eu estou um tanto mais suja.

E que os intervalos entre essas vezes
são cada vez maiores,
então talvez esteja aí a resposta...

Ou eu ando mais feliz,
ou ando cada dia fingindo mais.

O que não quer dizer que eu
finja melhor hoje do que nas vezes anteriores.

Tenho andado distraída,
mais do que nos outros dias,
mais até do que em outras vidas.

E já entendi porque ando voltando,
o motivo de ainda renascer aqui...

É que eu peco por antecipação,
peco por urgência,
e peco por dor...

Eu sei que é inconsciente,
mas eu me culpo,
tem doído,
e sigo chorando,
mas mainha me diz sempre p'rêu voltar...

Eu não posso trilhar outro caminho
enquanto não aprender,
mas a lição dói,
é difícil,
agora eu lembro da dor
e lembro da sensação...

É que em outra vida eu fui até o fim,
a cabeça dói sabia?
O pulso, a veia, o pulmão,
a pupila te deixa cego,
deve ser pra não ver a despedida,
deve ser pra não enxergar o rosto
da sua mãe mais essa vez...

Não tem frio não,
isso é mentira,
mas tem o vazio,
tem o choro,
tem a angústia...

E eu não quero mais essa chance,
mas parece que alguém lá da diretoria não entende...

Eu não quero voltar,
não tem nada de novo aqui,
tenho os surtos,
tenho os desapontamentos,
tenho os amores,
e deles as tristezas, as traições,
os enganos...

O amor é frio,
não é nada bonito,
eu lembrei que vim buscar companheirismo,
mas tem muita gente aqui,
e isso me assusta,
gente é ameaça,
eu quero é minha companheira.

E quero que ela me queira,
meu peito anda cansado,
meu cérebro sem oxigenação,
eu ando mirrada,
eu ando não sendo minha companheira,
eu ando me machucando,
e me abandonando,
e dando o mesmo direito,
eu ando me enganando,
e que direito eu penso que tenho
de exigir que não me façam o mesmo?

Eu me deixo doer,
melhor ainda:
eu me faço doer,
eu sou dor e tristeza,
eu ando mirrada,
triste, feia, murcha...

E a poesia voltou a se alimentar de mim,
de todos os meus podres,
de todos os meus galhos mortos,
de todos os meus frutos podres,
depois dos azedos,
da minha folhagem, do meu corpo
e das minhas raízes,
eu desisti.

Mas como a uma semente,
ela me faz brotar,
mas eu não quero mais voltar...

Prendi o ar.

                    Ingrid Nogueira.

domingo, 13 de maio de 2018

O Pedido -desajeitado-

Não há nada que pague a presença dela
 (que me falta)

E eu havia jurado que não escreveria sobre ela.

Jamais!

Falhei.

Mas sei que não a perderei.

Eu descobri que a diferença
sempre morou no quanto eu queria.

E eu a quero da melhor forma
que se possa querer.

Quero dividir toda a minha vida,
mesmo que pouca,
só com essa mulher.

Eu não saberia outra forma
de pedi-la pra ficar.

Sem implorar,
mas pedindo sempre que pense
também em mim,
como eu nela.

Eu não tenho dúvidas de que ela
seja a mulher da minha vida.

E pretendo fazer com que
ela também me veja assim,
por toda a vida daqui pra frente.

Nunca me dei assim pra ninguém,
e hoje entendo os motivos
de nunca antes ter podido.

Que me perdoem as pessoas anteriores,
mas era dela,
sempre foi.

E agradeço ás forças que regem tudo,
por ter conseguido enxergar isso antes de
me tornar invisível, intocável e inaudível a ela.

Essa talvez seja a carta de amor
que nunca esperei escrever,
e que eu talvez nunca entregue.

Ela é a brisa da minha manhã,
mesmo sabendo que eu uso casaco,
ela é intensa demais,
e isso é bom,
uso o casaco pra me adaptar.

Ela é a vista do 608, Fratele,
no começo e fim do dia.

É a saudade que eu sofro,
saudade essa que já não esperava mais sentir.

Ela é  incansável,
é sobra,
é falta da falta,
é a não-definição do que eu sinto,
mesmo que use,
- por não conseguir ainda palavra que traduza melhor, -
amor.

Mas amor sem a crueldade,
sem o egoísmo,
é um sentimento puro,
pleno, calmo ao mesmo tempo que inquieto,
mesmo que nunca deixe que
se aquiete o meu peito.

Por falta de palavra melhor,
Eu amo essa mulher.

Aceite dividir comigo os dias,
todos os de chuva,
de trovões, de ventania,
de seca, de sol, de brisa, de flores,
de frio, de fruto, de falta e de sobra.

Aceite sonhar comigo,
mesmo os pesadelos,
e mesmo os reais,
eu prefiro ter você pra cuidar,
prefiro me confiar a você.

Talvez seja cedo demais,
eu sei.

Não precisa responder de imediato,
mas por favor responda que sim.

Amanda Caroline Aquino do Carmo,
Casa comigo?


             Sempre sua,
                     Ingrid Márcia Bonifácio Nogueira.

                                       Patos de Minas, Minas Gerais, Brasil
                                                                               08 de maio de 2018.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Nada de abraços,
ele era louco,
e não podia ser tocado.

Eu não estava lá,
mas pude sentir sua dor,
a solidão que ele sentia,
à qual ele era todos os dias submetido.

O castigo era muito maior
do que ele poderia suportar.

Ele era contagioso,
mas não foi contaminado,
nascera assim.

Ele era feliz,
e o mundo todo
era cinza.

Suas cores o obrigaram
à dor,
ou melhor, por suas cores
o obrigaram à dor.

Ele precisava de alguém,
mas todos ali ignoraram esse fato,
não o trataram como
humano,
mas por ele tudo bem,
ele já não o era,
com toda certeza,
e bem o sabia.

Ele era um ser que testemunhou
sua própria evolução,
não pertencia mesmo mais
à roda de convívio
da qual fora excluído,
mas ainda pertencia àquele corpo,
e até esse direito o negaram,
covardes e temerosos que eram,
o condenaram a uma morte fria
e desacompanhada.

Uma injeção letal,
rápida e fria
fez da despedida
dois piscares quase infindos
de olhos,
ele já não sentia mais dor,
seu corpo estava em estado
de êxtase,
o que o fez ejacular antes de morrer,
poucos segundos e
mais emoção que todo
o resto miserável da sua vida,
tentando ser aceito pelos outros.

Ele já não sentia mais frio,
nem dor,
ele só sabia existir,
se desligou do corpo físico,
e limitado,
era agora plenitude em tudo,
era completo em si mesmo.

E contemplava o mundo sem suas cores,
criou seu próprio mundo,
ele era agora um deus,
e não fazia diferença,
era pleno e não precisava de aprovações.

E se morrer for
a porta de limitação para a divindade?


                               Ingrid Nogueira.
Um revólver na cabeça,
foi direto
apontado para a têmpora direita,
pra não haver o risco do erro,
pra não haver o perigo da vontade,
da volta,
da desistência...

Ela estava decidida.

Suas mili-helenas não adiantavam
nem sequer para fazê-la voltar atrás,
mas isso por que a fizeram acreditar
que não era mais necessária a sua presença.

Não apenas naquela sala,
mas onde fosse,
fizeram com que
ela se matasse,
porque mulher bonita
só serve pra ser bonita calada,
mulher não tem que pensar.

E ela cansou,
e queria também ter
a liberdade de amar
como qualquer homem tinha,
e ficava ainda mais indignada
por ver o quão tolas eram as suas decisões.

Ela se matou de tanta falta de liberdade,
e a sua alma era livre,
precisava de autonomia,
ela precisava viver.

O meu peito chorava a cada lembrança,
meus olhos eram frios,
já não se concentravam em nada mais,
a única coisa que soube proferir
com os lábios trêmulos,
e olhos longínquos,
foi: "SEHNSUCHT".

Foi baixinho,
eu compreendia,
mas ninguém mais.

Tínhamos assuntos nossos,
e apenas as duas conhecíamos
essa palavra na cidade,
duas mulheres bem letradas,
que decidiram viver vidas proibidas,
amores proibidos,
que escolheram por uma vida plena,
pelo perigo de sermos tidas como loucas.

Meus olhos lacrimejaram apenas uma vez,
por não ter tido coragem de estar ao lado dela,
ou por não ter podido arrancar aquela arma da mão dela,
ou mais ainda,
por não tê-la beijado antes da partida.

E por não tê-la acompanhado,
vou pagar no resto de vida que ainda me é guardada,
pela falta de segurança,
ou pela falta de coragem,
por ter escolhido vê-la livre e feliz,
pela covardia de decidir ficar.

Eu sigo pelo caminho da loucura,
e agora desacompanhada.
Ela decidiu partir,
e eu não fui capaz de acompanhá-la.

Não tem mais graça ser diferente,
nem ser louca,
as pessoas têm medo de mim,
elas me chamam de louca e nem me conhecem,
elas não me pertencem a realidade,
elas não me apetecem a alma,
eu não as vejo,
porque ignoro,
eu não as sinto,
porque elas não fervem
e por esse motivo,
não servem.

São mornas
e suas dores não ardem.

Elas não queimam,
e meu coração não aceita nada
abaixo de 50ºC.

Eu assumo o risco da queima,
e ela o assumia comigo,
e agora queima de onde eu a posso assistir.

Ela dança porque sabe
que eu sou sua plateia
mesmo que há uma distância imensurável,
ela sabe que a ela eu pertenço,
por decisão própria.

O calor dela me alimenta,
e o meu a ela,
o desejo do meu corpo hoje,
passa da loucura,
e sua arma ainda está
na cabeceira da nossa cama,
é um convite pra reencontrá-la.


                                          Ingrid Nogueira.

terça-feira, 20 de março de 2018

Poeta é alma amaldiçoada,
não se engane com a beleza de suas palavras...

De que elas valem?
O poeta hipnotiza,
e te coloca no lugar dele,
ele te faz sofrer.

Quando o poeta é bom,
mas bom mesmo,
o leitor sai despedaçado.

Poeta é como sereia,
encanta e mata,
poeta é amaldiçoado e se apaixona,
poeta mata a musa, o ser que deseja.

Poeta não é coitado,
as pessoas têm que parar de pensar assim.

Poeta é alma má,
que escolhe esse castigo,
que acha que é um dos mais tranquilos,
que acha que depender do amor é coisa boa,
mas o amor não é em nada generoso,
e esse é o pior castigo,
ser poeta é a pior sina.

O amor é cruel
e impiedoso,
o poeta,
pra conseguir lidar minimamente com ele,
se afunda nos vícios,
e jura que é pra conseguir escrever.

O poeta depende da dor
que o amor proporciona,
o poeta maestra as palavras,
mas a essência da dor é que
dá o que escrever.

Poeta é marionete da dor,
é dura a descoberta,
eu sei.
Mas é também verdadeira.

A felicidade do poeta é ilusão,
a dor do amor é o grilhão preso no nosso pé.

A nossa sina é a de amar
e se doer,
e não ter,
é quando ser correspondido, perder.



                     Ingrid Nogueira.


segunda-feira, 19 de março de 2018

Entreguei o meu presente,
numa caixa de vidro,
não entrei,
deixei na entrada e fui embora.

Observei de longe,
ela veio até a porta receber,
mas não me encontrou,
sentiu o meu cheiro,
mas não identificou.

Havia outro alguém
que veio ao seu encontro,
e que fez com que ela pensasse em mim,
era tarde demais,
ela esqueceu do meu rosto...

Eu toquei no presente com luvas,
não quis deixar rastros,
ela parecia feliz,
mas no fundo,
seus olhos não brilhavam mais,
o sorriso era claramente amargo.

Era a felicidade encaixada que ela sempre quis,
e eu não poderia suportar vê-la assim todos os dias,
quem a conhecia como eu,
saberia que o seu rosto estampava o desespero,
ela sufocava,
estava esperando ser salva,
mas não queria admitir,
e tinha me feito prometer não intervir
sem que antes ela me pedisse.

Junto com o presente deixei um bilhete,
mas eu acho que ela não aprendeu a ler
os meus recados sutis...

Eu mandei uma das pinturas de Saturno,
e mandei um poema,
ela nunca entendeu os meus textos,
ela nunca soube absorver bem as minhas intenções...

Na verdade,
essa encarnação fez com que ela
apagasse o meu rosto,
ela apagou até o sentimento,
a ligação que existia entre nós...

É meu castigo ser o anjo dela,
vê-la de longe,
por ter quebrado as regras.

Eu me ajoelho ao lado da
sua cama,
todas as noites,
eu guardo os sonhos e o sono dela,
eu a vejo transar com a outra pessoa,
eu não sei se mais me enojo,
ou se mais me invejo.

Ela me vê,
ela sabe que eu estou lá,
ela se sente observada,
e se mostra.

No bilhete do presente,
eu me despedi,
eu pedi pra trocar de função
e isso me foi concedido,
eu não volto a encarnar nesse mundo,
e digo isso aliviada.

Ela foi o maior amor das minhas vidas,
e a maior dor,
foi meu maior castigo.

Eu resolvi me abster.
Não volto aqui,
o recado estava explícito,
eu fui covarde,
me declarei,
e fugi,
não me mostrei,
não dei a ela a chance...

Deixei o frio soprar no coração dela,
só um pouco,
a espinha congelou,
mas eu sei que passou logo,
assim que ela identificou a caligrafia e
tentou me procurar virando a cabeça em 1/4 de raio,
eu já havia partido.

Eu decidi não esperar mais o pedido para salvá-la,
me atirei no vácuo do Universo,
eu me despedacei,
e já não há nada que reste de mim,
que não seja a voz.



                    Ingrid Nogueira.
Lá no bordel era lei,
a gente não conseguia nem se vestir de tudo,
era tanta energia,
tanto e sedução e beleza...
Eu lembro dessa encarnação...
Você também estava lá.

Eu lembro dos teus olhos.
Eram tantos corpos,
mas não podíamos ter o que desejávamos,
porque não era bem visto.

As orgias,
eu lembro dos seus olhares,
era quando conseguíamos trocar nossas
carícias pessoais.

Eu sempre te esperava chegar dos teus chás,
te esperava na janela.
Namoradeira não!
Não éramos mulheres com quem se namorasse...
Eu te esperava "mulher-da-vida",
puta, dada aos prazeres...
P'ros homens era propaganda dos serviços,
pra você era mulher!

Me lembro ainda do medo,
da vontade,
dos quase...

Lembro quando você me ensinou a fingir,
e de como você não conseguia fingir pra mim.

Eu lembro também do basta,
de quando fomos apanhadas,
de quando você me trancou,
de quando rasgava as minhas roupas de urgência,
eu lembro de quando você me proibiu de me vender,
eu lembro bem daquela noite,
daquela briga...

Lembro de quando você me olhou
da mesma janela onde eu costumava te esperar ansiosa...

Eu era quem olhava de fora agora,
sinto ainda a dor no peito,
eu sinto a dor.
A do tiro, e ainda mais a da posse,
a da traição...

O gosto de sangue,
a perda da égua de entre meio as pernas,
a sua perda do peito,
você fez, com aquele tiro,
uma porta de saída,
você foi embora de mim junto com
o sangue que me escapava.

Eu sinto ainda hoje as lágrimas
que te escorreram dos olhos
e que caíram na minha testa,
bem no lugar onde você me beijou...

Eu te perdoei,
lembro bem disso...
Eu te amei,
e ainda nessa vida,
Eu te amo.

Mas não corro mesmo risco.



                Ingrid Nogueira.