segunda-feira, 31 de julho de 2017

Eu via a dor em seus olhos
aquele que um dia foi seu amor
hoje não vive mais.

E é a razão de ela vagar
pelo mundo,
e sempre estar no mesmo lugar...

A dor sempre a fazia voltar,
a saudade, o arrependimento...

E quando ela segurou as minhas mãos,
eu não pude entender como aquilo acontecia,
mas ela se ligava aos meus sentimentos,
ela me contava da sua dor pelo toque,
minha alma arrepiou.

Nada mais tinha forma,
quando ela olhou nos meus olhos,
me implorando pra que a tirasse dali.

E pude visitar suas lembranças,
eu a vi nos olhos dele,
seu amor era intocável,
era inalcançável,
mas ela não soube lidar,
ela o queria tanto,
e não sabia dividir as atenções,
ela tinha um sexto sentido...

E acabou como ela previu,
o alguém que o desejava não foi nunca embora,
então foi ela quem foi.

Ela não podia suportar a ideia
de que ele não a escolheu,
porque ela entendia o quão grave era a escolha,
e que duraria toda a vida.

Então partiu,
achou que doeria menos,
muito menos,
afinal o mundo é imenso demais,
e quando menos esperava,
ele se casara.

A notícia deixou a coitada arrasada,
e todo ano,
naquela data,
na data do casamento,
ela se via visitando suas lembranças,
e doía o sexto sentido
tão apurado que ela tinha,
e que dessa vez,
ainda sendo tão certo,
não a pôde salvar da dor.

Eu chorei com aquela mulher,
e a amei,
e bebi com ela,
ajudei-a a se cortar - cortes profundos-,
ajudei-a a colocar pra fora,
eu segurei a sua mão quando
de repente fraquejava e hesitava,
dei forças pra que
nunca mais sofresse assim...

Eu olhei no espelho,
eu toquei o espelho,
eu me vi parada ali,
eu não me deixei voltar atrás,
eu chorei comigo,
eu me abracei,
eu não tinha mais amigos,
não fosse por aquele eu antigo,
aquele eu doído...

Eu sujei a casa,
e escrevi no espelho,
eu chorei,
e enlouqueci.

A casa tinha um cheiro podre,
mas eu não me deixava perceber,
eu ignorava,
e eu decidi que
não seria assim,
nunca mais!

Então eu me senti
decidir,
era hora de acabar com
toda aquela loucura,
eu morri.

Na escada de casa,
olhando pra porta,
com todas aquelas cartas
que eu escrevia mas não enviava,
ali, ao meu lado,
todas pra ele,
estava esperando ele chegar,
mas ele nunca chegaria,
e eu não podia
nunca entender sua decisão,
então eu morri.


                   Ingrid Nogueira.