terça-feira, 6 de outubro de 2015

A voz dela me satisfazia,
e o cheiro, e a pulsação...

 Era como se estivesse ali comigo,
sentia suas mãos ali,
seu corpo,
mas era tudo delírio,
ela havia partido.

 Na noite anterior,
ela partiu  no meio da noite,
logo depois do prazer mental
e do corporal.

 Depois da pior discussão
que poderíamos chegar a ter...

 Mas eu nunca quis que chegasse a tal ponto...
eu só precisava dela ali,
mesmo que fôssemos continuar brigando,
mesmo que fosse pra erguermos juntas
os nossos braços e girar até cair no chão,
no meio do coreto do quintal.

 Só precisava dela ali.

 Precisava ser dela outra vez,
mas toda aquela noite foi tão maior...

 Mas não nos demos o bastante,
foi o que decidimos,
e eu sei.

 O que eu não sei,
e nem quero mais saber,
é onde foi que nos perdemos baby!

 E me perderia com e por ela novamente,
mesmo que fosse outro erro,
prefiro morrer acreditando que foi
fora da lei, mas não desisti,
eu amei.

 Sempre foi a ela quem eu quis,
minha primeira e mais esplêndida
bola-fora...
ou dentro, depende muito de quem vê,
minha bola errada mais acertada,
a única pena é ela não entender.

 Só ela é quem não quis,
e daqui eu vou seguir,
mas erraria com ela outra vez.

 Só pra constar,
guarde bem as asas que me arrancou,
me privou dos prazeres do voo,
mas se privou de ser  o motivo pelo
qual eu teria escolhido não voar.


                            Ingrid Nogueira.

Solitário Delírio no Verão Interior

 A luz baixa de agora,
me sugere falar dela.

 E a voz genial no vinil me
induz sentimentos e desejos proibidos.

 Vestia pouquíssima roupa naquela ocasião,
como era comum em todas as outras em que
sonhava sozinha acordada,
sem tê-la em meus braços.

 Poderia te ouvir gemer a noite inteira,
e realizar todas as suas vontades,
mimar você, e depois dar-te meus
braços em oferta para descanso.

 Já a sentia ali,
podia vê-la a me seduzir,
nua em pudores,
entregue ao momento,
entregue totalmente a mim e eu a ela...

 E como a letra da música descrevia,
quebrávamos todo o silêncio,
e os corpos, quebravam os gelos,
vertiam no mais puro carmim,
todos os rubores que ainda nos restavam.

 Cada póro do meu corpo se eriçava,
e enquanto dividíamos aquele copo
já suado de conhaque,
nossos corpos esquentavam,
e o que antes nos pareciam delírios,
tornava-se em realidade.

 Ela, esplêndida,
fingia não me dar confiança,
me virava as costas, sentada no sofá logo à frente,
mas colocava os cabelos todos de lado,
mostrando as costas, o ombro,
o pescoço...
 E tudo nela mostrava o quanto me desejava.

 Me olhava de lado,
de canto de olho mesmo,
assim, como se nada quisesse de mim,
 "_ Nada que não fosse a carne..."
repetia eu em pensamento.

 Acendeu um cigarro, que era enfeitado
por aquele suporte longo, afinado que ela adorava,
"_Qual era mesmo o nome daquela peste que me perturbava os sonhos?!
Ah sim! Cigarreira!"

 Era um charme aquele prolongar das mãos,
a sutileza com que tocava-lhe com os lábios,
um convite tentador e castigante para minha mente,
ajudava para que fosse composta aquela figura,
como o céu completando o horizonte.

 Mas o que lhe faltava em sutilezas,
sobrava e sobrepunha em delicadezas,
 por sua vez, apaixonantes.

 Foi quando o disco do B. B. King acabou,
e com ele foi junto todo o prazer daquela noite.

 Por que ela não estava mais ali,
ela nunca esteve ali pra mim,
nem nunca deixou que eu estivesse ali para ela também...

 Ah! se a tivesse aqui...

                       Ingrid Nogueira.