quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Taquiomorfria

"É quando você passa horas pensando no que vai falar para uma pessoa especial e no fim não fala nada do que planejou."

Sofro disso,
sofro do ensaio,
da ansiedade em te dizer,
em te ver e te sentir,
mas você me deixa sem palavras,
eu ensaio um dia inteiro,
e nem os meus textos eu consigo decorar,
mas eu sei exatamente,
milimetricamente e encaixado bem na métrica
tudo o que eu quero te dizer,
mas você me rouba a voz,
e não precisa muito,
é mesmo só um pouco de você,
são esses olhares,
essas vozes,
os perfumes,
as presenças...
No plural sim,
falo de muitas,
você é complexa
e se multiplica.
É fúria e ardor,
você divide espaço com outras
mulheres no seu peito,
você tem as rédeas,
mas cede.
E elas todas se aproveitam de mim...
Eu amo você,
mas não te decifro nunca,
e é o que me prende a atenção,
você é tantas,
que é impossível te conhecer por completo
mas vejo nos seus olhos
a cada segundo,
a parte que quer se mostrar,
e eu recebo,
eu aceito o seu convite,
com o peito aberto,
tímido, e desvendo mais essa parte,
mais essa mulher,
e me encanto mais uma vez,
e feliz me lembro de nunca esquecer,
que nunca vou terminar de te conhecer.
Ingrid Nogueira.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Eu quero mais, 
é que você perca o sono com saudades minhas,
E que fique perturbada pra me chamar pra conversar,
e quero de verdade,
do fundo do meu coração, 
que você me queira.
Não é mau querer se sentir querida,
desejada,
só não te desejo me querer quando eu me cansar de verdade de esperar.
Isso não é uma indireta não,
é só um alerta
de que as coisas podem acontecer,
e eu quero mesmo te perturbar os sonhos,
e quero mesmo que você sinta a vontade de sair pela rua de madrugada querendo me encontrar,
com saudade de me ver,
com vontade de falar comigo,
sentindo falta do meu abraço, que nessa hora,
vai ser só de amigo.
Eu desejo, com toda a sinceridade,
que os seus sentimentos se baguncem,
e que você não consiga os organizar por um bom tempo,
que é pra não saber qual rumo tomar,
espero que tudo na sua vida se desorganize,
que é pra você crescer,
que é pra você entender minhas urgências,
as minhas necessidades, as minhas crises,
minhas compreensões,
minhas inquietudes, e minhas calmarias repentinas.
Eu desejo um amontoado de dor,
pra que aprenda a valorizar quando finalmente cicatriza...
Eu desejo pra você,
uma vida de riscos, escolhas, sucessos e arrependimentos (e que eu seja um deles).
Desejo do fundo do meu coração,
olheiras bem marcadas,
sonhos perturbadores,
dias inquietos pensando em mim,
sem saber onde me encontrar,
eu desejo não que eu seja o centro da sua vida,
mas que eu seja a bagunça da qual você gosta,
e da qual você precisa,
desejo também, nesse dia,
estar bem longe de você.
Eu desejo que você sinta vontade e não saiba onde saciar,
que você sinta saudade, e não tenha como matar,
que você chore, e não tenha onde secar...
Eu te desejo todas as circunstâncias desse mundo
antes de me reencontrar,
pra eu poder te encarar aliviada,
sabendo que ninguém mais vai se doer com você,
o que eu me doí por você.


Ingrid Nogueira.               21/07/2016

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Palidez

Era tudo tão cinza,
e nem o sorriso brilhava mais.
A mata dos seus olhos era agora sem cor,
da cor da camisa,
da camisa de pijama,
Cinza!

O céu que sempre refletia
e foi assim mesmo,
chovia no Universo,
e só ela não sabia.

Era uma chuva doída
e sem cor,
era cinza inteira.

Era uma cidade toda
que já foi,
e agora toda ruína,
úmida, com vários
tons de verde-cinza.
Até os musgos das paredes
em suas extensas e complexas
organizações, não escapavam
da frieza do dia.

Não há nada nos olhos,
cinza fria,
Hiroshima,
cinza frio,
Hoje no planeta Saturno,
que perdeu a cor.

       Ingrid Nogueira.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Distância

O pior dos dias
porque mesmo que não fosse,
eu consideraria:
O melhor abraço que eu
recebi foi nesse dia,
um olhar tímido,
um abraço tímido,
os pulmões,
usinas cheias de cinzas.

O nome era Larissa,
e imperava na minha cabeça,
o cheiro dela me alastrava,
e o cigarro que ela fumava.

Era baixo,
e era dissoluto.

Tudo um volta dela girava,
e todas as luzes se acendiam,
seu corpo astral era o que luzia,
mas esse não era o seu nome, não!

Esse não se dizia.
Foi sinônimo de ciúme,
mas não sabia.
Foi o que me recarregou,
o fogo que me aqueceu,
me acariciou,
mas me temia.

              Ingrid Nogueira.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Dona de Saturno

As sardas que carregas na pele,
o sorriso que te enche o rosto
e transborda os olhos...

Ela é Larissa,
e não tem qualidade
que possa contemplá-la
por inteiro.

Ela é,
essa é a melhor
forma de descrevê-la.

Sua paixão a faz,
e ela é, nisso,
sublime.

Traz no peito,
o Universo suspenso.

Ela é dona de Saturno,
e traz o anel bamboleando nos olhos,
mas não sabe.

Tem nas mãos as torrentes,
as tempestades que Iansã dá,
e as contém no peito,
ela segura seus trovões
dentro de si.

Ela carrega a floresta
na cor dos deus olhos,
na textura do olhar
que ela sabe,
não demora nada pra marcar.
         
                                   Ingrid Nogueira.
Dentro de mim
mora alguém diferente,
alguém apaixonado,
que sobressai a mim
de vez em quando.

Esse alguém surge
quando te vê,
e me toma
os pensamentos e as mãos.

Eu tenho um poeta
que mora dentro de mim,
num quarto triste,
de paredes mofadas,
em cuja janela está
sempre chorando,
mesmo que o sol aqui fora
me castigue a pele,
e sua luz ás minhas retinas.

Eu tenho alguém morando aqui dentro,
que é apaixonado por você.

E quando você passa,
acorda e me toma o lugar.

Você desperta
alguém melhor em mim,
alguém que ama,
que faz meus olhos brilharem,
que usa as minhas mãos.

Você desperta minha criatividade,
e ela sabe como usar a inspiração,
o momento em que te vejo,
o cheiro,...

Esse alguém sabe decor,
todos os seus detalhes,
e faz uso de todos eles,
compondo um acorde,
um poema,
uma sinfonia...

Cria,
de você,
tudo o que ainda não existe,
só pra te mostrar que está aqui,
pra te fazer enxergar
tudo o que em mim você desperta
e o meu alguém racional não sabe dizer.


                                              Ingrid Nogueira.
Me dê atenção.
Eu não quero ter que brigar por ela,
e nem parecer uma criança,
irritante e pirracenta,
puxando a barra da sua calça,
pra que você olhe pra mim.

Estou saindo da sua vida,
e espero que te abra espaço,
e que cresça.

Isso aqui não é o útero da mamãe
e a vida não vai cuidar de você.

 Ingrid Nogueira.
Eu me sinto sumir da sua vida
aos poucos,
e isso dói demais.

Eu me sinto perder a graça,
perder a cor,
eu sumo e não faço falta.

Não te dói mais me ver ir,
é o que eu vejo nos seus olhos,
sua expressão não me mente...

Você não me toca mais,
e quando o faz,
a sua mão me faz derreter,
eu inteira fico suada,
estremeço e sumo.

Eu sumo aos poucos da sua vida,
e escorro nas suas mãos,
entre os seus dedos...
eu sangro,
escoo, e deixo de ser.

Você se vai aos poucos,
eu sinto e fico,
não por querer,
mas por me faltar reação.

Eu me lembro de uma cena parecida,
de ter presenciado essa cena,
de protagonizar essa cena,
eu vivi essa cena,
eu morri nessa cena,
escoei pelos olhos,
eu era palidez inteira,
nem nos meus olhos havia cor,
era calor,
mas de repente meu corpo inteiro estremeceu,
um frio súbito,
fui pro paralelo,
mas nem lá me sentia em segurança,
a morte me perseguia,
eu parei de sentir.

Eu fingi que era brincadeira,
ou mentira,
que não era comigo até...
mas a dor me fez ver
o quanto verdade era.

Esfriei.

                      Ingrid Nogueira.
Eu ouço Nina
e me recordo do nosso amor puro,
quase iludido...
Eu não tinha nada,
e você me deu parte do que possuía,
e me lembro também de como eu
não tinha nada,
e você cuidava de mim,
como se eu tivesse carregando o seu mundo.

Eu não soube valorizar,
e não soube te amar,
não fui o bastante,
eu não era tão madura
quanto você precisava que eu fosse.

E agora eu só posso deseja a sua
felicidade...

Me perdoa mulher,
eu era tanta metade,
que não pude te ser inteira,
não pude te amar inteira,
não havia nada que pudesse dizer,
ou fazer.

Só me perdoa.

Meu coração não tinha crescido,
e acabei te sufocando.
Eu te machuquei,
e ão era a intenção.

Eu te matei,
mas você voltou a brotar,
e isso me deixou feliz,
mesmo que não tenha sido
por mim.

Eu avisei,
eu nunca vali a pena,
e não era por querer,
eu te amei,
mas não era o bastante.

                        Ingrid Nogueira.

Carta de Despedida

Desejo todo o amor,
e todo o companheirismo
que eu tentei,
mas não consegui te dar.

E te desejo também toda a liberdade
e companhia, todo o beijo e todo o abraço,
todo o carinho, amizade e amor que não me
senti capaz o bastante pra te ofertar.

Desejo toda a experiência,
todas as companhias, todas as presenças falhas
que você um dia desejou.

Eu não sirvo pra escrita contemporânea,
minha caneta sente, minha tinta é lágrima.

Eu não posso te oferecer um texto frio,
totalmente culto,
sem erros gráficos ou sentimentais.

Houveram muitas lágrimas
enquanto eu pensava em te deixar partir.

Mas eu não te farei infeliz
porque ainda quero a sua companhia,
por te amar eu sei que
um de nós tem que ser feliz,
e eu é que sou a poeta aqui,
sou eu quem está destinada à sofrer.

         Ingrid Nogueira.

Eu sou toda um mar.
Sou um mar denso,
e ainda assim ela me penetra,
ela decide me desbravar.

Eu não me conheço a mim,
mas ela me penetra.

Cheia de coragem essa mulher,
que toma todo o ar que pode,
pra entrar num lugar,
que ela bem sabe,
não vai deixá-la respirar.

Eu sou sufocante,
eu mesma morro aos poucos
quando decido mergulhar em mim,
mas ela gosta desse meu risco,
e ela se arrisca nessa possibilidade
de uma não volta.

Ela tem consciência da minha densidade,
e sabe que mal vai conseguir se mover,
e então ela abre mão dos seus
braços e pernas.

Ali, pra ela,
de nada interessa o movimento,
e de nada interessa o ar.

Ela não quer me deixar,
mas e quero vê-la viver,
e eu sei que a mato aos poucos.

Então expulso-a daqui,
jogo-a pra fora de mim,
e eu ão posso dizer se é amor.

Amor é mesquinho,
e eu não.

Eu não amo,
o amor é ruim,
ele faz definhar,
e suga tudo,
ele suga a vitalidade,
e seca o coração.

Ela tem cheiro de incenso.
E é o que me fica dela,
toda vez que se vai.

O meu mundo tem o cheiro dela,
mesmo que eu finja não perceber,
quando ela se vai e eu fico a sós,
eu só penso em como guardar isso.

Porque eu não quero dizer,
eu não quero morrer,
e o amor mata,
eu amo, mas não quero ouvir de mim.

Ela vai me matar,
e vai se matar,
estou à beira de aceitar.

O suicídio está sendo desenhado,
em duas cores nós o pintamos,
e o aceitamos.

A dança das cadeiras
se converte em tintas,
eu não tenho mais canetas,
e a dança se alonga pelo salão,
que é a tela,
que sou eu.

Ela decide ficar,
e se dilui em mim
aos poucos.

Eu morro e renasço,
parte dela,
parte minha,
ela me transforma,
eu opto por não voar.

Ela é meu cárcere,
e o amor me mata,
novamente e  aos poucos.

Eu me deleito
em morrer,
porque ela assiste.

                    Ingrid Nogueira.

domingo, 19 de novembro de 2017

Ela me faz enlouquecer,
eu quero desbeijá-la,
não quero usar essa devolução de
beijo com prazer,
só quero desfazer.

Ela se mostrou amarga
depois daquele beijo,
não que eu já não soubesse
que era o provável,
o problema esteve em
querer apostar no contrário,
depois da viagem dos dois minutos.

Escorpião, ela se picou,
pra não sofrer de amor
mais essa vez,
ela me contaminou com o seu veneno
e intoxicou a beleza que havia nos meus olhos,
a beleza toda que eu via em seus olhos -
talvez.

Eu não sei decifrar essa mulher,
que acredita ainda ser menina,
que pensa passar despercebida,
que acredita não chamar a atenção,
ela acredita porque quer,
pois sabe que as atenções
se voltam pra ela,
basta que ela entre e respire,
basta que seu coração bata,
que ressoe como um tambor
(ou o baixo, com suas ondas graves,
por ser o que ela decidiu tocar)
em qualquer lugar em que chegue.

Ela insiste em ser caleidoscópio,
de mesma face.
Mas acontece que ela não
tem apenas uma face,
ela é caleidoscópio de profundidade,
de complexidade,
e beleza únicos.

Ela transforma tudo,
faz tudo ser mais profundo
do que aparenta ser,
ela multiplica tudo.

Ela não quer, mas é...

Eu não quero,
mas confesso...

Me ensina como não me ligar...


   Ingrid Nogueira.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Utópica

Era uma cabeça que flutuava
uma cabeça flutuante,
e não sentia os próprios pés.

Não comandava o próprio corpo,
e vivia com o inimigo,
era como se o ser de baixo
quisesse machucá-la a todo tempo,
a cada inspirar.

Mas sempre foi uma cabeça atraente,
sempre rodeada de mistério,
era uma cabeça pensante,
dessas que brilham,
das raras que não se vê por aí
todos os dias...

Era também uma voz,
que nunca se ouvia
senão em breves
e acertadas colocações.

Era uma presença
da qual muito se dizia,
uma presença que arrebatava,
que preenchia qualquer lugar,
que roubava todas as atenções
sem o mínimo sinal de esforço,
Era apenas um estar...

Que estava,
que era,
que pulsava insistentemente,
incessavelmente,
num bater ritmado,
e leve, mas estrondoso.

Era trovão,
no meio da própria calmaria,
era potável em meio de qualquer mar...

Era o que rouba o foco,
sempre saqueou atenções,
e sempre a exigiu,
sem mesmo o som de qualquer palavra,
sem um fio sequer de intenção...

Era espontaneidade em essência,
era sorriso, meio torto,
risada de certo um tanto rouca,
era choro que alaga,
e gritos que trovoam,
eram passos firmes,
que nunca cambaleavam,
que não se permitiam tropeçar.

Era plenitude,
portanto,
nunca deixou de ser.

Aquela mulher ainda é,
e nunca vai deixar de ser,
Nem vai se deixar esquecer.

Por que ninguém esquece essa mulher
nem se quiser.

Ela impera os sonhos,
e prometi que esqueço tudo nessa vida,
mas ela ainda vai caminhar comigo,
de mãos dadas dentro do peito.

Ela é um caleidoscópio
multifacetada,
mas é única,
é ideal,
mas não sabe disso,
e nem tem essa preocupação.

Ela é utopia,
e dança plena,
e desliza pelo asfalto,
como se o calor não incomodasse...

O calor que dela emana
é que aquece tudo a sua volta,
e finge que não sabe..

Não tem digitais,
porque não tem mãos,
ela toca ao olhar,
e o brilho daquele olhar
é o que deixa marcas.

Tenho uma cicatriz no peito,
foi seu olho,
mas quando a cicatriz apareceu
não doeu, não!

Ela me acarinhou
com aquele olhar terno,
meu peito decidiu se abrir,
mas ela decidiu partir,
foi embora,
e me deixou as lembranças...

Eu amo quem não é,
foi utopia e liberdade,
sua partida não foi dolorida,
nem surpresa,
foi a ida
para o reencontro.

Reencontro esse que
espero em paz,
no cais que construí na baía
logo ali,
em frente a minha casa,
o cais fica nos meus olhos,
e o brilho de todas as tardes
se faz saudoso de sua presença...

As lágrimas que lavam meu rosto
são o mar que decidiu desbravar,
meu peito continua aberto,
as cortinas insistem em
balançar ao mínimo sopro,
elas dançam por que ela gostava de ver,
e dizia que era a dança
que ela queria fazer,
que queria ter a leveza
das cortinas que eu comprei
pra pôr no nosso quarto,
que queria se sentir parte daquilo,
se sentir pertencendo àquele lugar,
mas ela tinha a alma cigana,
e não pude ir...

Ainda sinto o cheiro dela,
era o perfume das brisas mansas,
me abraça todas as manhãs,
e então parte novamente...

                                 Ingrid Nogueira.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Da Despedida

Eu te vi imergir,
mas não tive forças
pra te salvar,
foi escolha sua,
eu não tive reação.

Você me viu chorar,
e me pedia pelo olhar,
pra não te abandonar,
e então eu fiquei ali...

Sem nenhum reflexo,
eu te vi afundar
por vontade própria,
e não me deixava te buscar.

Você arquitetou bem seu plano,
não existia espaço,
ou possibilidade de eu descer até aí
pra te pegar no colo,
você não queria ser salva.

E hoje eu convivo com
a falta de você,
e do seu sorriso,
eu não me lembro mais
dos seus olhos,
porque eles me foram frios
nos últimos momentos,
e eu não gosto de lembrar.

A espinha congela,
a pele arrepia,
a mente cria um blackout,
eu vou pra fora de mim,
e sinto cada batida do meu coração,
sinto o sangue correr dentro de mim.

Eu sinto novamente a pressão
dos seus dedos na minha mão,
implorando pra eu não te soltar,
mas era tudo loucura,
você nunca tocou as minhas mãos.

Eu nunca te olhei nos olhos,
mas eles me pareciam frios,
eram extremamente penetrantes,
mas você não me via...

E eu queria que seus olhos
quisessem penetrar os meus,
eu sempre desejei que
o objetivo dos seus olhos fossem os meus,
mas você não me notava...

Por que você estava no
meu quarto àquela hora?
Como foi que você surgiu lá?
Você nunca tinha dividido sequer
a sala comigo...
embora eu quisesse muito.

Meus últimos suspiros
tiveram a melhor espectadora,
mas nem isso pôde me salvar,
eu senti sua alma estremecer
quando em contato com a minha,
suas janelas escorriam
como se chovesse,
gotas salgadas,
cintilantes, e eu não as pude impedir...

Eu fui embora
e não me despedi.

    Ingrid Nogueira.

sábado, 7 de outubro de 2017

Neutro Seguro...?

Isso não é sobre como você foi imbecil,
ou sobre como você se esconde no fundo do restaurante,
no canto esquerdo,
pra que as pessoas não te alcancem...

Você não vai conseguir
viver sozinha,
ninguém pode se isolar
por tanto tempo,
e eu sei o quanto é cansativo
isso de se esconder o tempo todo...

Isso não é sobre você,
é sobre como você estragou o cinza,
não no lúdico,
a cor mesmo,
com essa sua mania de
querer passar despercebida,
quando sabe que nunca vai
existir essa possibilidade...
Animal arredio,
se esconde  no comum,
fica cinza...

Não sei se é o medo de usar a cor,
medo de se colocar disponível,
ou o medo de ser machucada,
o medo de doer...

O mundo é mais que isso
meu bem...

E estar nele dói,
viver ás vezes arde,
e não tem como evitar.

E existiu o momento em que
nossos olhos se cruzavam,
esse momento ainda existe,
e grita.

Há um estalido quando
os olhos se cruzam,
mas como num
ato de covardia
eles escapam,
fogem e se negam a presença.

E vai chegar ainda o dia...

Esse dia em que
seus olhos não vão mais conseguir fugir,
e não vai ser um esbarrão com os meus,
mas esses outros,
vão te prender a atenção...

A dor, meu bem,
faz parte,
e os caminhos dos olhos
findam,
chega uma hora em que
outra presença é necessária,
não para casar-se,
mas para ser companhia,
pra ser carinho e o próprio
refúgio,
o qual agora lhe é frio e vazio...

Se expor, se dar
é necessário querida,
você vai aprender,
lembre bem dessas palavras:
ninguém é sozinho pra sempre.
A solidão é traiçoeira...

Eu também demorei pra aprender...

                   Ingrid Nogueira.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Póstumo

As minhas asas secaram,
e eu não me sustento mais de pé,
eu não tenho mais
equilíbrio suficiente.

Como uma árvore seca,
o que ficou foram as estruturas,
os galhos que emergem de
dentro de mim.

Minha coluna dói,
ela entorta com o vento,
eu nunca tive estrutura,
e toda aquela penugem
escondia isso.

Eu gostava de
como eu parecia ser,
mas eu sabia que
era muito menos que aquilo.

Então eu dei um fim,
eu fui embora,
eu estou indo embora,
mas ninguém sente isso,
por que a realidade
é que não fazia diferença.

Eu me perdi,
eu sequei,
eu mirrei,
mas não faz diferença,
porque o fim está logo ali.

Agora o frio já
não é mais um castigo,
nem o calor,
a pressão arterial aumenta,
jogando todo o sangue do corpo pra fora,
o que era pra me defender,
caiu na armadilha,
eu estou indo,
e minha visão fica turva aos poucos.

Eu não escrevo sobre amor
há um bom tempo,
e eu não vou mais escrever sobre nada,
mortos não escrevem,
eu não vou lançar obras póstumas,
porque mortos não escrevem.

As palavras,
que antes me eram amistosas,
que voavam em torno de mim,
agora me desconhecerão,
eu ecoarei em sons,
que nem sempre farão sentido,
mas serei eu,
em essência,
pura, limpa,
transparente,
com a certeza de que não
iludo a ninguém,
e principalmente a mim.


                         Ingrid Nogueira.

Olhar que desfaz

Eu me sinto desfazer,
e não tem ninguém olhando,
eu não preciso de plateia pra isso,
eu me desfaço calada.

Eu me desfaço no escuro,
e ninguém sabe
porque qualquer um tentaria impedir,
mas o propósito não é esse?
Encontrar o fim?...

A gente brigou,
a culpa foi minha,
e eu nem sei bem
explicar o meu motivo.

Eu tenho medo de te perder,
e eu sei que é o que vai acontecer,
porque a vida só está começando
e eu já quero parar por aqui...

Existe uma linha aqui,
e ela precisa ser mostrada,
existe um carmim,
e ele precisa respirar.

A dor que os prende,
que os tapa,
me sufoca,
e eu não vou mais
alugar o meu corpo pra eles.

Eu sei que ela
não vai estar aqui quando
todo esse vermelho jorrar
e ela não vai estancar...

O vazio vai voltar a doer,
ele vai ser minha única companhia,
eu vou com ele pro silêncio.

A dor vai passar,
e depois,
o frio vai parecer familiar,
a gente vai se abraçar
e ser um só
eu vou emprestar
a minha voz pro vento
pra ele soprar
e fazer ela lembrar de mim.

A neve vai ganhar uma cor nova
quando ela souber,
lá de onde ela estiver,
que foi opção dela não me salvar,
quando ela souber
que era a única que
poderia me impedir de partir,
que seus braços poderiam
ter me feito desistir,
e que seu calor teria
me impedido de liberar
todo o carmim.

A lâmina que eu carrego comigo
é muito afiada,
e não dá chance de desistir,
mas o olhar dela
me faz sentir quando a lâmina
se derrete em contato com a minha pele,
que fervilha a simples possibilidade.

Eu tenho uma lista de
tentativas frustradas,
eu me conservo viva,
nesse cinza,
na esperança de
poder tê-la,
e de não mais ser
um outro alguém vagando
e tentando encontrar o fim.

                     Ingrid Nogueira.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Poeira de luar

Havia uma criança de olhos esbugalhados,
quase que saltando pra fora dos olhos...
(ela queria fugir por eles,
ali mesmo)
Ela era uma menina tão doce,
mas queria conhecer a minha alma.

E já conhecia meus medos
sem nem me tocar,
ela tinha uma força
que a acompanhava,
e eu não entendia.

E invadiu meus pensamentos
quando fui embora dali,
ela não me deixou,
e estava em todos os lugares,
impregnou na minha mente,
seus olhos eram negros,
e profundos,
me carregaram pra sua escuridão,
e deixou que eu conhecesse.

Ela me mostrou os aposentos
sem que neles eu me encontrasse,
ela me transportou pra outra dimensão,
ela me levou,
me fez dar passos cada vez maiores,
e eu não sentia,
mas corria dentro daquele caleidoscópio,
aquele lugar que me era incomum.

Eu revi o momento,
agora eu sei quando foi que aconteceu.
Foi quando ela tirou
aqueles óculos escuros,
que a distanciavam de todos presentes ali,
Foi nesse momento
em que ela me penetrou a alma.

Ela gravou alguma coisa na
minha alma,
meus olhos não eram mais iguais,
minhas cores mudaram,
mas quando eu olho no espelho
eu não consigo ver,
eu não sei o que mudou,
mas eu sinto que mudou,
e ela sempre está nos cantos agora,
em todo lugar aonde eu vou,
como se conhecesse meus costumes.

Aquele olhar dentro do meu
me perturbava,
eu precisava encontrá-la
pra poder devolver-lhe a parte
que me houvera sido doada,
eu não soube lidar com tanta presença,
e foi acontecer logo comigo,
que estou acostumada com a solidão.

Mas ela não queria ser encontrada,
ela queria estar ali,
ao meu lado,
e pra mim ainda é estranho.

Eu nunca fui desejada
e ela me fez sentir viva,
e de repente seus olhos
abriam nos meus,
eu via a sua janela se abrir,
ela me acompanhava em sonhos.

Mas eu nunca ouvi a sua voz,
era reservada,
e sabia do seu valor.

Ela me entregou o seu
olhar,
a sua beleza,
sem oferta de troca,
sem nem haver interesse,
ela se expôs pra mim,
em silêncio,
e eu a toco,
sem que ninguém saiba.

Hoje ela é uma mulher,
e vive guardada nos meus labirintos,
ela nunca me pertenceu,
mas fazia questão de permanecer presente.

Ela dividiu silhueta com a lua,
e me deixou ver,
me deixou entender suas relações,
ela é do escuro,
ela não tem idade,
nem data,
ela é e não há nada que a desfaça,
ela é infinita,
e o meu amor,
hoje, é mais.

Eu amo uma mulher que
é sombra no luar,
ela é silhueta,
e seus olhos são
de um castanho negro,
aquele que inspira
mistério,
ela é e não prova,
ela ama,
e não tem medo de mostrar.

Eu amo a poeira do mar,
eu sou o vento que a faz voar,
em constante risco de diluir,
ela escolheu me confiar
tal cuidado,
ela confiou a mim a sua vida,
a sua frágil existência,
Hoje eu zelo pela poeira que faz o mar brilhar.

Eu amo a substância,
eu sou essência,
e não me desfaço
nem se cansar.

                    Ingrid Nogueira.

Carta de Despejo ou Término ou Túmulo

Eu sei que existe entre nós
um jogo de orgulho,
e eu sei que você
não me procuraria.

Meu bem,
eu vim em paz,
e não quero causar-lhe dor,
eu vim te olhar nos olhos,
eu preciso dizer que te amo,
e que sinto muito,
pela dor necessária,
mesmo que não intencional.

Não diga nada,
só não me mande embora,
eu preciso te dizer que
hoje eu te entendo,
eu entendo os seus motivos,
e os seus sentimentos.

Me perdoa por fugir
como eu fiz,
mas eu não sabia por onde seguir.

Hoje eu sei onde estou,
e entendo que preciso
reparar alguns erros do meu caminho.

Você é quem mais me doeu magoar,
e eu quero que me ouça,
não precisa dizer nada,
só me deixe ficar,
eu preciso desse momento
só com você.

Eu sei que você,
daí do outro lado da mesa,
treme.
Mesmo que por dentro,
mesmo que só na alma,
e não é necessário que assuma em voz alta,
seus olhos se perderam ao som
de cada palavra que eu
acabei de proferir.

Eu tenho que acabar com isso,
então não me mande sair,
eu vi a sua mulher lá fora,
e querida, que mulher!
eu ainda não sei
o motivo de ela cativar certo
ódio por mim,
mas sei que ela quer te proteger.

Eu estou aqui desarmada,
não aponte a sua arma contra mim,
não gaste a sua mira,
eu vim com bandeira branca,
só não me mande sair antes
de falar tudo a você...

Eu te amo
mesmo que ainda não me acredite,
e mesmo que arranque uma parte
de você quando me ouve,
mesmo que te faça
escorrer a alma pelo olhos,
e que seu corpo se aqueça rapidamente,
a ponto de fazer evaporar o álcool
do vinho que você acabou de impelir.

Mesmo que você
não queira acreditar,
eu não vim reacender sentimentos
que hoje estão abaixo do zero,
eu vim perdoar a minha alma,
eu estou indo,
e mesmo que queira me seguir,
não o faça,
ela é a melhor opção
que você pode fazer,

Não me siga,
que meus caminhos são frios demais,
eles são sombrios,
foi a sentença a que você me condenou,
e eu tomei gosto,
meus caminhos são sozinhos demais,
e assim eu não posso te fazer sofrer,
eu vim pegar a sua cópia da minha chave,
lá não é lugar pra você,
e eu sei me virar sozinha meu bem.

Eu vim te deixar
livre de qualquer obrigação
comigo,
eu nunca quis ser o seu fardo,
e eu escrevo,
especialmente hoje,
pra te deixar ciente
de que eu não estou mais aqui,
mesmo que ainda por perto,
mesmo que ainda te conservando carinho,
eu não te vejo mais,
minha alma se fechou,
e esfriou,
eu escureci por dentro,
eu não carrego uma alma,
pra deixar que a sua seja livre.

     Eu amo você,
      mas meu coração deixou de pulsar,
        as córneas palideceram,
         o corpo esfriou,
          O amor JAZ,
           Do meu lado.


                   Ingrid Nogueira.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Queen of pain

Eu sorrio quando a dor te castiga,
minha pele borbulha,
ela ferve,
e novembro é um mês frio.

Eu me sinto a rainha da dor,
porque eu tomei o seu lugar,
e o seu nome,
você agora vive na minha sombra,
você perdeu, meu querido desamor.

Novembro me trouxe,
e ele mesmo tratou de levar,
você perdeu seu nome,
e seus olhos,
ex-rainha da dor,
você não tem mais uma voz,
e meus ouvidos festejam.

Você não é ninguém,
não hoje,
não mais,
você não tem mais calor,
hoje sou eu quem te joga um cobertor,
não vai morrer de hipotermia,
eu tenho planos pra você,
no congelador,
nós dois com os corações pelados,
vamos ver se aí você resiste a mim,
e meus pés gelados
agora, preferem assim.

Você foi um erro que novembro
me trouxe,
mas ele próprio tratou de levar.

Você não é nem quem senta a minha esquerda,
eu não te dei uma aliança,
nada dourado,
nada de valor,
eu perdi tudo depois de te encontrar,
você foi uma má surpresa de novembro.

Seu mês favorito acabou de te trair,
ele te levou daqui,
você ficou no ano passado,
e nada pode ser feito,
você perdeu o trono,
e a coroa.

Você não é mais a rainha da dor.

Me diga como é sofrer,
agora que você tem um coração,
me conta como é não estar aqui,
quando você sabe que está,
mas não é percebida.

Você não é mais validada.

Eu te dei na mesma proporção,
em justiça,
tudo aquilo que você me deu,
nenhuma medida a mais,
nenhuma a menos,
exatamente o que você deu.

Me diz como é andar na sombra de alguém,
como é não ser notada?
Você sabe dizer?
Ainda tem alguma voz resistindo aí na sua garganta?

Você já foi a minha cor favorita,
a minha risada favorita,
seus olhos já foram os únicos que eu queria fitar.

Mas agora eu nem te vejo mais,
minha cabeça tem andado levantada,
e não é por ser esnobe, não
é por dignidade,
meu pescoço doía quando meus olhos insistiam em te acompanhar,
porque seus caminhos eram profundos demais,
eram longos demais,
e eu tinha que me abaixar demais,
minha coluna doía.

Eu não perco mais meu tempo
olhando pra você,
sua dor não é nem um pouco
bonita de ver,
e hoje eu fervo,
eu não tinha calor,
eu morri quando estava com você,
e você nem percebeu isso.

Mas hoje meu calor me basta,
e eu posso dividí-lo,
eu aprendi como não doer,
eu parei de me cortar,
eu não olho mais pra baixo,
eu não reparo mais em você.



                 Ingrid Nogueira.
Eu sou solúvel,
e diluo nos seus lábios,
e escorro no canto da sua boca,
me misturo com seus fluidos corporais,
enquanto me contorço na sua cama.

Eu sou doce,
e sumo quando seus lábios me tocam.

Você sabe como me tocar,
você aprendeu muito bem
sobre o meu corpo,
e sabe bem o que eu quero,
suas mãos seguem as
recomendações dos meus olhos,
e quando eles se fecham,
cada suspiro é termômetro,
e você sabe como me fazer
andar nesse caminho.

Você sabe como me fazer dançar,
e me conduz nesse ritmo.

Você comanda a orquestra,
e eu me confio a você,
eu me perco,
e esse caminho é longo.

Meus olhos perdem o rumo,
eles saem da órbita,
mas eu não posso gritar,
seus pais estaõ na sala.

Minhas unhas arrancam a
pele das suas costas,
eu deixo você saber
quando estou perto de derreter,
o meu corpo não mente,
e dilui aos poucos.

Eu faço uma poesia erótica,
sem papel nem caneta,
eu faço poesia,
e eu gozo,
poesia sensurada,
eu faço,
com o meu corpo,
poesia boêmia,
eu vendo o meu prazer,
e exponho nos livros,
nas bancas de jornais,
o mel é seu demais.


          Ingrid Nogueira.

Não sei amar com os olhos

Ela me olhava daquele jeito,
mas eu não entendia o porquê
eu nunca soube o porquê

E ás vezes seus olhos
me atravessavam,
eles pareciam me partir ao meio,
e me vasculhar a alma.

Mas ela não parava de me fitar
com aqueles olhos grandes...

Ela tinha um olhar
de bruxa,
ás vezes de cigana,
Seus olhos eram frios,
e não tinham cor,
muitas vezes eles eram pálidos.
E já os vi escorrer,
era como nascentes que
congelam completamente
quando chega o inverno.


Os olhos dela ás vezes
me faziam queimar,
eu via as chamas surgindo neles,
e me sentia queimar
nesses dias, o que deles escorria
era como a vela derretida,
e deixava um caminho endurecido.

Aquela mulher sabia como me
deixar enlouquecida,
ela me fazia arder os ossos.

Não apetecia nenhum outro olhar.

Mas ela não parava de me fitar
com aqueles olhos vidrados.

Mas ela não parava de me fitar
com aqueles olhos perdidos.

Ela não me deixava ter lugar,
eu nunca mais senti paz,
e precisava daqueles olhos em mim,
todos os dias,
na minha pele,
eu precisava das discussões caladas
que tínhamos em olhares.

Ela me fitava,
com aquele olhar de loba em caça,
eu me via presa,
e não sabia negar seus pedidos.

Ela me olhava com olhar de lava,
e me consumia,
sem me dar tempo de fugir,
seu calor me aquecia,
me derretia,
e logo em seguida já não mais haviam forças,
restavam apenas cinzas.

Ela tinha um repertório de olhares
pra me fitar,
pra me consumir,
pra me congelar,
pra me caçar,
e ela fazia de mim o que bem entendia,
porque eu era tão vulnerável,
o meu amor me deixava vulnerável,
ela tinha certo poder sobre mim...

Mas um dia,
ela decidiu não mais
me olhar nos olhos,
blêf, eu descobri a traição,
o espetáculo se encerrou,
ela me arrancou os olhos
minha alma foi junto,
e eu não sei mais o que eu vejo,
meus olhos não vêem,
estou cega,
meu coração não vê,
eu não tenho termômetro na alma,
eu sinto sortidamente,
e não há remédio pra isso,
eu não posso controlar.

Eu não tenho olhos,
e machuco outras pessoas,
não é por mau,
eu não sei olhar dentro de outros olhos,
meus olhos, cegos,
doem, fogem do contato,
se escondem,
repelem  qualquer tentativa.

Eu não sei amar com os olhos,
eu não sei dizer com os olhos,
eu preferi desaprender...

Meus olhos congelaram,
eles escorreram,
e esfriaram, congelaram,
como assim desejaram,
eu não pude negar tal desejo,
autoproteção.


Ela ainda me fita,
mas os meus olhos deixaram de existir.



               Ingrid Nogueira.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Eu via a dor em seus olhos
aquele que um dia foi seu amor
hoje não vive mais.

E é a razão de ela vagar
pelo mundo,
e sempre estar no mesmo lugar...

A dor sempre a fazia voltar,
a saudade, o arrependimento...

E quando ela segurou as minhas mãos,
eu não pude entender como aquilo acontecia,
mas ela se ligava aos meus sentimentos,
ela me contava da sua dor pelo toque,
minha alma arrepiou.

Nada mais tinha forma,
quando ela olhou nos meus olhos,
me implorando pra que a tirasse dali.

E pude visitar suas lembranças,
eu a vi nos olhos dele,
seu amor era intocável,
era inalcançável,
mas ela não soube lidar,
ela o queria tanto,
e não sabia dividir as atenções,
ela tinha um sexto sentido...

E acabou como ela previu,
o alguém que o desejava não foi nunca embora,
então foi ela quem foi.

Ela não podia suportar a ideia
de que ele não a escolheu,
porque ela entendia o quão grave era a escolha,
e que duraria toda a vida.

Então partiu,
achou que doeria menos,
muito menos,
afinal o mundo é imenso demais,
e quando menos esperava,
ele se casara.

A notícia deixou a coitada arrasada,
e todo ano,
naquela data,
na data do casamento,
ela se via visitando suas lembranças,
e doía o sexto sentido
tão apurado que ela tinha,
e que dessa vez,
ainda sendo tão certo,
não a pôde salvar da dor.

Eu chorei com aquela mulher,
e a amei,
e bebi com ela,
ajudei-a a se cortar - cortes profundos-,
ajudei-a a colocar pra fora,
eu segurei a sua mão quando
de repente fraquejava e hesitava,
dei forças pra que
nunca mais sofresse assim...

Eu olhei no espelho,
eu toquei o espelho,
eu me vi parada ali,
eu não me deixei voltar atrás,
eu chorei comigo,
eu me abracei,
eu não tinha mais amigos,
não fosse por aquele eu antigo,
aquele eu doído...

Eu sujei a casa,
e escrevi no espelho,
eu chorei,
e enlouqueci.

A casa tinha um cheiro podre,
mas eu não me deixava perceber,
eu ignorava,
e eu decidi que
não seria assim,
nunca mais!

Então eu me senti
decidir,
era hora de acabar com
toda aquela loucura,
eu morri.

Na escada de casa,
olhando pra porta,
com todas aquelas cartas
que eu escrevia mas não enviava,
ali, ao meu lado,
todas pra ele,
estava esperando ele chegar,
mas ele nunca chegaria,
e eu não podia
nunca entender sua decisão,
então eu morri.


                   Ingrid Nogueira.

terça-feira, 25 de julho de 2017

E tinha alguma coisa acontecendo
ela não sabia como se sentir.

Ela nem sabia o que estava a incomodando,
havia certa maresia se levantando
mas não era noite de lua cheia,
seus mares estavam agitados.

Como se soubesse que estava
a ponto de ser trocada,
de ser estraçalhada mais uma vez.

Ela sabia que estava pagando
por alguns erros do passado,
e por isso tinha que suportar,
de pé,
viva,
firme.

Mas ela era frágil demais,
como o anjo de vitrô,
que uma vez lera num
livro de literatura antiga,
daqueles que ela achava fascinantes,
e voltando da lembrança,
sofreu,
como se La Femme
lhe tivesse arrancado
aquele órgão
(que é mais um músculo)...
o... como é mesmo o nome?!
Ah! Isso!
O coração
com as mãos.

Ela desmoronou
decidiu que
se tinha que passar por tudo aquilo,
para quê prolongar a dor?
que tudo passasse logo de uma vez,
melhor uma dor intensa que passe  rápido
que uma dose pequena de dor a cada dia,
como se fosse receitada pelo médico.

Mas a vida é curta,
e é rápida,
e pode ser muito triste,
ao mesmo passo que é extremamente feliz,
é emocionante,
ao mesmo passo que pode ser
absolutamente frustrante
ou ainda, angustiante.

E tudo ela precisava que
lhe fosse intenso,
mas o intenso ás vezes dói...

Ela que a maresia não era amiga,
e naquela noite,
quando a convidou pra dançar,
sorriu um sorriso sarcástico,
seus olhos queimavam
não havia calmaria,
só barulho,
muito barulho
muita onda,
e depois uma sensação
de ouvir urros de dor
e de tristeza.

Ela não sabia,
mas a sensação era
a premonição do que
estava chegando,
calado...
Seus pulsos doíam,
a alegria escorria
pra fora daquele corte,
a confiança,
de braços dados,
e não olhavam pra trás...

Alguma parte dela morria
ali,
naquele exato momento,
e ela não conseguia entender
o motivo de tudo aquilo...

A traição escorreu
pelos seus olhos,
a cena doía ardido...
doía agudo no fundo da garganta,
no final do coração,
mas ela já duvidava se era ali
que o seu sentimento estava morando,
porque ela se sentiu vazia
naquele exato momento.

Havia sido roubada,
enganada,
ela não tinha deixado nem suas palavras...

Tivera que começar a vida
de um ponto 0,
ao qual, agora,
ela tinha consciência de
que nunca pararia de visitar,
cada amor,
todos doídos,
era a sua sina,
e nada poderia mudar aquilo...

A vida arrancou o amor dela...



Ingrid Nogueira.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Eu ando pelas paredes,
eu me vejo andar,
como num caleidoscópio,
ilusão de ótica.

Mas da natureza que eu venho,
nada é loucura,
nada fora o ódio.

Minha mãe é dona das águas,
e tem nome forte,
e dela emana amor,
minha mãe é sereia
de água doce.

Eu brinco,
e danço,
eu me ofereço na areia.

Eu cresço,
mas só eu é que vejo.

Há um calor que arde,
meu peito inflamado
sabe que já é tarde,
mas a minha mente reclama.

Não é justo,
ilusão de vodka.


             Ingrid Nogueira.
Nunca soube como descrevê-la,
e quando ela me aparece, é como se
todo o ar do mundo já não houvesse.

Sentia como se tudo em mim gritasse
pela presença dela.

E passava agora,
a conhecer partes do meu corpo,
daquelas que a gente esquece,
e eu sentia cada vaso nos meus pulmões,
e cada etapa do meu sangue sendo
transformada, e oxigenada,
e me sentia célula, e via toda
a viagem que fazia em mim.

E era extraordinário como eu me
sentia quando você estava.


Mas a sua falta me faz também delirar.

Porque, como um viciado,
eu não sei como me sentir na sua ausência,
eu não sei me comportar,
eu não quero me comportar,
eu sinto todo o Universo,
e não posso sentir você.

Meu corpo são se conforma.

A minha mente não se conforma.

Eu sinto tanto e não sinto nada.
O meu tempo pára,
não há mais tempo,
eu sou parte de tudo,
mas sou a parte que não te toca,
sou a parte virada para a parede,
aquela que não te vê.

Estou tão longe,
que eu não sei mais falar,
e nem os movimentosobrigatórios
e involuntários se recusam a acontecer...

Porque o meu corpo se recusa
a tudo se você não estiver.

Eu não vou me reeducar
a estar sem você.

Não vou me matar,
nem vou me embebedar,
eu vou contar a nossa história,
eu me recuso a deixar de transformá-la
em arte.

Eu me recuso a estar aqui e não ser notada,
e se a dor da sua ausência é o que vai me
fazer me mostrar, então que seja!

Mas não deixe que o outro alguém me tome o lugar,
nunca me esqueça.
E se houver a mínima chance,
eu vou fazer questão de escrever até que
tudo chegue à você.

Eu me recuso a morrer,
 e me recuso a não ser lembrada,
  eu fiz questão de deixar sua casa marcada,
   e se das marcas você e livrar,
    eu vou ao jornal,
     e publico um anúncio,
      o mais poético,
       e sei que vais achar patético,
        e no fim o meu número vai
         te fazer chorar a escolha de me deixar.

Eu espero que cresças,
como o deserto,
e que no meio,
haja um daqueles mananciais,
a miragem do futuro
que você tenha alguém
em quem se refugiar,
e que seja o suficiente
até decidir voltar.


            Ingrid Nogueira.
Eu amo a mulher que
carrega um novo sistema planetário,
ela o traz no peito,
mais especificamente nas suas pontas,
e fica escondido,
só se mostra pra mim,
quando eu a toco.

Ela é como a mãe de tudo,
e guarda suas melhores partes
para quem ama.

Ainda não entendo como ela
pôde me permitir chegar
tão longe, e tão fundo...

E pensei que os meus olhos
não mais veriam tanto amor,
que nada fosse mais ter cor,
e não entenderia tanta beleza.

Mas ela ressignificou a vida,
eu contemplo seus olhos,
e os aromas que ela exala,
são os incensos acesos do meu templo.

No desenho do suor que
escorre da sua pele,
me mostra os seus caminhos.

Ela é misteriosa e tem
caminhos extensos, complexos,
e pensa não se abrir o suficiente,
ela é o meu pássaro dançante,
seus olhos castanhos me abrem verdades,
das quais ela ás vezes
diz não querer contar.

Se ela não fala comigo,
os ventos não cantam,
a chuva não cintila
e nada mais tem gosto.

Há dor no meu peito quando
ela não me olha nos olhos.

É a menina pura que
me fez enrubescer,
e enlouquecer...

A minha menina,
é ela, a pequena,
a quem eu dedico tanto amor.

A minha mulher cheira
a canela e mel.
Ela faz o céu perder toda
a majestade quando
me olha nos olhos,
e sem uma palavra sequer,
me faz entender o que ela quer.

Eu amo você minha menina,
muito e pra sempre.

              Ingrid Nogueira.

Você não merece o amor

Cada pedaço do meu corpo sente
a sua falta,
mas você sempre está lá,
e não há exceções,
porque você está lá
mesmo se não houver um lugar.

Há memórias que nunca morrem,
e você está em todas.

É como uma imagem que se apaga,
e o cheiro que marca.
São colinas que ainda estão lá
durante a noite,
mas não se pode ver.

A sombra do que você representa
sempre vai escurecer as imagens.

Existe uma sensação sobre ela,
e é triste dizer,
mas não é boa,
e enquanto estava deitada
a minha cabeça fervilhava,
ela nunca some de lá,
e ainda me sujeito a pensar.

Fui estúpida quando acreditei que
entre nós haveria amor.

Ela não sabe amar,
e não consegue assumir seus erros,
foi pesado pensar que te amava,
ainda é difícil reconhecer em voz alta
que eu era abusada.

Eu escorro pelo olhos e
pelo coração,
não em líquido,
em emoção,
eu explodo!

Dessa vez não transbordo,
é na realidade,
um vazamento,
fui sabotada.

Meu coração,
perfurado,
sangra e dói,
uma dor pesada e sozinha,
e fria, me vejo morrer,
e escorrer por aí,
enquanto você sai,
andando, calma,
com o meu sangue
no rosto e nas mãos,
satisfeita de ter me atingido,
e isso dói.

Meu peito dói,
e minha coluna também,
e a minha alma,
meus olhos, meus ouvidos doem,
como se algo estridente
me alterasse em todo.

Meus sentidos estão
todos atordoados,
e não sei como me comportar
quando é sobre você.

Todos os meus póros estão eriçados,
mas você não mais está.

Todos os meus instintos,
as premonições,
acusam você.

Mas não quero mais
reagir a você,
e meu peito teima.

Você é o tumor,
a mancha no meu corpo.
E tudo o que pensei haver,
não vivia,
nunca existiu amor em seus olhos.

Pensei que quando
me sentasse pra escrever,
haveriam palavras bonitas para
registrar um amor,
mas estou tão morta,
tão podre por dentro,
que nada floresce,
o meu ex-coração fede,
porque eu te amei,
e a sua ilusão me fez morrer,
você me matou com suas
próprias mãos,
e eu sufoquei até perecer,
você me viu esmaecer,
eu esfriei e perdi a cor diante
dos seus olhos, 
dos quais já não sei
nem a cor,
você me assistiu parar de respirar,
viu cada milímetro das
pupilas dilatar,
você me viu me perder
e não fez nada,
não se moveu,
não gritou,
só me entregou à morte.

Hoje já não sinto
e vou te assombrar até que
um dia,
enfim,
morra.
Que deixe de sentir.

Eu não amo mais,
e vivo numa tentativa vaga
de me refazer.

E é com essa dor
que vais ser levada
daqui.

Você não merece.




                     Ingrid Nogueira.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Ela não fala mais comigo,
mas hoje ela falou.

Ela não me ama mais,
mas hoje,
justo hoje,
ela me magoou.

Ela está sendo injusta,
não comigo,
consigo mesma,
e guarda uma dor,
na qual ela não quer remexer.

Mas a cada vez que lembra de mim,
a casca sai,
e ela fica vulnerável,
é uma dor que não mais deixa de existir,
é uma dor que eu provoco
sem saber,
sem querer...

E quando eu quero ajudar,
aí vem a defensiva,
e então dói,
porque ela não quer resolver,
porque a dor é maior,
mas o rancor mata,
e eu não quero voltar,
quero ajudar a resolver,
e tendo em vista que
é assim que vai ser melhor pra ela,
eu me vou...

Mas quando nos reencontrarmos,
a dor nostálgica não
vai deixá-la ter paz.




                           Ingrid Nogueira.

domingo, 9 de julho de 2017

Eu me sinto sumir da sua vida,
aos poucos,
e isso dói demais.

Eu me sinto perder a graça,
perder a cor,
eu sumo e não faço falta.

Não te dói mais me ver ir,
é o que eu vejo nos seus olhos,
sua expressão não me mente...

Você não me toca mais,
e quando o faz,
a sua mão me faz derreter,
eu inteira fico suada,
estremeço e sumo.

Eu sumo aos poucos da sua vida,
e escorro nas suas mãos,
entre os seus dedos...
eu sangro,
escôo, e deixo de ser.

Você se vai aos poucos,
eu sinto, e fico,
não por querer,
mas por faltar reação.

Eu me lembro de uma cena parecida,
de ter presenciado essa cena,
de protagonizar essa cena,
eu vivi essa cena,
eu morri nessa cena,
escoei pelos olhos,
eu era palidez inteira,
nem nos meus olhos havia cor,
era calor,
mas de repente meu corpo inteiro estremeceu,
um frio súbito,
fui pro Paralelo,
mas nem lá me sentia em segurança,
a morte me perseguia,
eu parei de sentir.

Eu fingi que era brincadeira,
ou mentira,
que não era comigo até...
mas a dor me fez ver o quanto verdade era.


                         Ingrid Nogueira.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Houveram convulsões na minha cabeça,
houve também espasmos por todo
o meu corpo,
e eu perdi o controle.

E não sou eu quem escreve,
mas agora, a inspiração que
dança nos meus movimentos.

As palavras sobrevoam os meus
pensamentos como se fossem
um enxame de abelhas ao ataque.

E agora estão zumbindo,

como se se organizassem em ataque,
dando fim a um intruso.

É o fim de um período escuro,
frio - frio não, gélido -

sozinho, onde eu me encontrava
- ou melhor, me perdia, me afundava -,
gota a gota.

Numa caverna fria,
com paredes de gelo,
que não paravam de escorrer,
com um teto feito lâmina,
feito espelho,
onde eu não queria mais me ver.



                   Ingrid Nogueira.
Meu eterno amor,
você nunca vai acabar,
mas acabou,
mirrou, é o fim.

Eu piso em ovos,
porque eu não quero te machucar,
e eu te carrego no colo,
já que eu não quero te magoar.

Mas eu te poupo,
e meu peito te rasga,
meus músculos fatigam,
eles têm espasmos.

Te carreguei no colo,
e me deixei descansar deitada
em lâminas cortantes.

Meu corpo se feriu,
e minhas feridas escorreram sangue,
meus pulsos estraçalharam,
a jugular esguichou (calada).

Eu morri,
e não houve alvoroço,
nem alarde,
foi um fim invisível,
eu esmaeci.

Eu não fui pro céu,
agora tudo é pálido e frio.
Não existe céu pra pessoas como eu,
mas eu não aprendo.

E eu trouxe comigo
um pouco de sangue
do que me fugiu.

Eu acordei assustada,
haviam tantas feridas,
tudo em mim ardia,
e o meu corpo escorria.

"Não!
eu não transbordei,
fui interrompida,
eu não me interrompi."

Foi o que eu escrevi nas paredes,
no chão,
eu escreveria também na porta,
se houvesse uma porta,
e no espelho, se esse houvesse.

Eu pintei tudo o que havia,
e eram apenas paredes de um infinito pálido,
eu estava sozinha,
porque eu me deixei morrer,
e via o meu espírito escorrer.

Ainda posso me ouvir gritar,
sabia?

E eu não podia ficar,
não podia intervir,
porque eu -digo, o meu corpo-,
não reagia.

Eu me assisti ir,
e esmaecer
ficar avulsa...

E não pude
nem me despedir.

Tudo naquele caminho me machucava,
e minhas pegadas ficavam,
mas ninguém as seguia,
eu fui andando
eu sabia qual a direção a seguir,
mas não sabia aonde estava indo,
e não tinha reações,
o meu espírito só ia,
e nunca parava,
eu senti o seu sorriso
quando eu passei por você.

Eu te amo,
mas eu morri.

Meu coração não pulsa mais,
é gélido.

Eu te amei.

             Ingrid Nogueira.

Paralelo

Conheci a solidão,
e ela era fria,
aquelas coisas que racham a boca
e queimam a pele.

O coração está parando,
aos poucos,
eu não filtro mais o sangue.

Com os fones de ouvido que
me transportam para o paralelo,
aquele que a gente mesmo cria...

O meu paralelo não é só meu,
eu o dôo,
mas nem todos o sabem,
nem todos o aceitam.

Meu paralelo é mais lento,
e mais silencioso,
é pálido,
meu paralelo cai constantemente,
mas lá não venta,
não tem ar,
nem ossos e nem pele,
o meu paralelo tem palavras
lançadas ao silêncio,
tem uma melodia muda,
sentida, que origina uma dança,
o meu paralelo é uma dança constante,
mas nem todo mundo assimila.

Ele é feito uma linha
muito tênue que separa a
loucura da sanidade,
mas eu não quero ser sã.

E a sanidade toda é a
linha, e finda.
Eu não vou viver em cima
da linha,
sem nunca cair,
eu escolhi enlouquecer.

Isso me faz caminhar sobre a linha,
bem no meio.

Horas sentanda sobre ela,
perdida, tentando respirar,
outras vezes, me jogando no
abismo que é a loucura.

Mas a loucura é um abismo
que sobe,
e no fundo,
no toque,
ela é aconchegante.

O meu paralelo é o que
me deixa sã.

Eu enlouqueço pra não morrer,
e odeio pra não morrer de amor,
e ensurdeço pra não morrer com o que falo,
por isso eu viajo pro meu paralelo.

Eu apago as minhas luzes,
meu corpo protesta,
mas eu já estou indo,
eu preciso descansar,
e me permito o silêncio,
mesmo que num ato preocupante.

Eu apago aquele momento,
mas ainda ouço as vozes,
e não tenho o direito de morrer.

Eu não posso me silenciar,
mas a minha voz te incomoda.

Você não quer conhecer a minha paz?

Eu sei que você vai gostar,
esse é o estado que todos querem alcançar,
mas não se permitem.

Minhas palavras pesam,
minha voz é alta,
eu me mostro,
mas a visão de mim pode
ser perturbadora.

Eu falo o que vocês não admitem
precisar ser dito.
Eu estou aqui, e mesmo que silencie,
o meu olhar vai te dar o recado,
o meu corpo vai protestar,
mesmo que me arranque a língua,
eu tenho uma voz,
e ela vai chegar até você.

Meu protesto fica aqui,
ele é claro,
não quero ter que morrer pra
estar em paz.

Na minha lápide eu quero escrito:
 "Ela está no seu paralelo,
o mesmo estado de paz
em que viveu."

Eu não quero suas drogas
injetadas nas minhas veias,
eu quero incensos e quero música,
eu não preciso de companhia,
mas você é bem vinda
se quiser ficar.

                           Ingrid Nogueira.