Eu me sinto desfazer,
e não tem ninguém olhando,
eu não preciso de plateia pra isso,
eu me desfaço calada.
Eu me desfaço no escuro,
e ninguém sabe
porque qualquer um tentaria impedir,
mas o propósito não é esse?
Encontrar o fim?...
A gente brigou,
a culpa foi minha,
e eu nem sei bem
explicar o meu motivo.
Eu tenho medo de te perder,
e eu sei que é o que vai acontecer,
porque a vida só está começando
e eu já quero parar por aqui...
Existe uma linha aqui,
e ela precisa ser mostrada,
existe um carmim,
e ele precisa respirar.
A dor que os prende,
que os tapa,
me sufoca,
e eu não vou mais
alugar o meu corpo pra eles.
Eu sei que ela
não vai estar aqui quando
todo esse vermelho jorrar
e ela não vai estancar...
O vazio vai voltar a doer,
ele vai ser minha única companhia,
eu vou com ele pro silêncio.
A dor vai passar,
e depois,
o frio vai parecer familiar,
a gente vai se abraçar
e ser um só
eu vou emprestar
a minha voz pro vento
pra ele soprar
e fazer ela lembrar de mim.
A neve vai ganhar uma cor nova
quando ela souber,
lá de onde ela estiver,
que foi opção dela não me salvar,
quando ela souber
que era a única que
poderia me impedir de partir,
que seus braços poderiam
ter me feito desistir,
e que seu calor teria
me impedido de liberar
todo o carmim.
A lâmina que eu carrego comigo
é muito afiada,
e não dá chance de desistir,
mas o olhar dela
me faz sentir quando a lâmina
se derrete em contato com a minha pele,
que fervilha a simples possibilidade.
Eu tenho uma lista de
tentativas frustradas,
eu me conservo viva,
nesse cinza,
na esperança de
poder tê-la,
e de não mais ser
um outro alguém vagando
e tentando encontrar o fim.
Ingrid Nogueira.
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