terça-feira, 4 de julho de 2017

Houveram convulsões na minha cabeça,
houve também espasmos por todo
o meu corpo,
e eu perdi o controle.

E não sou eu quem escreve,
mas agora, a inspiração que
dança nos meus movimentos.

As palavras sobrevoam os meus
pensamentos como se fossem
um enxame de abelhas ao ataque.

E agora estão zumbindo,

como se se organizassem em ataque,
dando fim a um intruso.

É o fim de um período escuro,
frio - frio não, gélido -

sozinho, onde eu me encontrava
- ou melhor, me perdia, me afundava -,
gota a gota.

Numa caverna fria,
com paredes de gelo,
que não paravam de escorrer,
com um teto feito lâmina,
feito espelho,
onde eu não queria mais me ver.



                   Ingrid Nogueira.
Meu eterno amor,
você nunca vai acabar,
mas acabou,
mirrou, é o fim.

Eu piso em ovos,
porque eu não quero te machucar,
e eu te carrego no colo,
já que eu não quero te magoar.

Mas eu te poupo,
e meu peito te rasga,
meus músculos fatigam,
eles têm espasmos.

Te carreguei no colo,
e me deixei descansar deitada
em lâminas cortantes.

Meu corpo se feriu,
e minhas feridas escorreram sangue,
meus pulsos estraçalharam,
a jugular esguichou (calada).

Eu morri,
e não houve alvoroço,
nem alarde,
foi um fim invisível,
eu esmaeci.

Eu não fui pro céu,
agora tudo é pálido e frio.
Não existe céu pra pessoas como eu,
mas eu não aprendo.

E eu trouxe comigo
um pouco de sangue
do que me fugiu.

Eu acordei assustada,
haviam tantas feridas,
tudo em mim ardia,
e o meu corpo escorria.

"Não!
eu não transbordei,
fui interrompida,
eu não me interrompi."

Foi o que eu escrevi nas paredes,
no chão,
eu escreveria também na porta,
se houvesse uma porta,
e no espelho, se esse houvesse.

Eu pintei tudo o que havia,
e eram apenas paredes de um infinito pálido,
eu estava sozinha,
porque eu me deixei morrer,
e via o meu espírito escorrer.

Ainda posso me ouvir gritar,
sabia?

E eu não podia ficar,
não podia intervir,
porque eu -digo, o meu corpo-,
não reagia.

Eu me assisti ir,
e esmaecer
ficar avulsa...

E não pude
nem me despedir.

Tudo naquele caminho me machucava,
e minhas pegadas ficavam,
mas ninguém as seguia,
eu fui andando
eu sabia qual a direção a seguir,
mas não sabia aonde estava indo,
e não tinha reações,
o meu espírito só ia,
e nunca parava,
eu senti o seu sorriso
quando eu passei por você.

Eu te amo,
mas eu morri.

Meu coração não pulsa mais,
é gélido.

Eu te amei.

             Ingrid Nogueira.

Paralelo

Conheci a solidão,
e ela era fria,
aquelas coisas que racham a boca
e queimam a pele.

O coração está parando,
aos poucos,
eu não filtro mais o sangue.

Com os fones de ouvido que
me transportam para o paralelo,
aquele que a gente mesmo cria...

O meu paralelo não é só meu,
eu o dôo,
mas nem todos o sabem,
nem todos o aceitam.

Meu paralelo é mais lento,
e mais silencioso,
é pálido,
meu paralelo cai constantemente,
mas lá não venta,
não tem ar,
nem ossos e nem pele,
o meu paralelo tem palavras
lançadas ao silêncio,
tem uma melodia muda,
sentida, que origina uma dança,
o meu paralelo é uma dança constante,
mas nem todo mundo assimila.

Ele é feito uma linha
muito tênue que separa a
loucura da sanidade,
mas eu não quero ser sã.

E a sanidade toda é a
linha, e finda.
Eu não vou viver em cima
da linha,
sem nunca cair,
eu escolhi enlouquecer.

Isso me faz caminhar sobre a linha,
bem no meio.

Horas sentanda sobre ela,
perdida, tentando respirar,
outras vezes, me jogando no
abismo que é a loucura.

Mas a loucura é um abismo
que sobe,
e no fundo,
no toque,
ela é aconchegante.

O meu paralelo é o que
me deixa sã.

Eu enlouqueço pra não morrer,
e odeio pra não morrer de amor,
e ensurdeço pra não morrer com o que falo,
por isso eu viajo pro meu paralelo.

Eu apago as minhas luzes,
meu corpo protesta,
mas eu já estou indo,
eu preciso descansar,
e me permito o silêncio,
mesmo que num ato preocupante.

Eu apago aquele momento,
mas ainda ouço as vozes,
e não tenho o direito de morrer.

Eu não posso me silenciar,
mas a minha voz te incomoda.

Você não quer conhecer a minha paz?

Eu sei que você vai gostar,
esse é o estado que todos querem alcançar,
mas não se permitem.

Minhas palavras pesam,
minha voz é alta,
eu me mostro,
mas a visão de mim pode
ser perturbadora.

Eu falo o que vocês não admitem
precisar ser dito.
Eu estou aqui, e mesmo que silencie,
o meu olhar vai te dar o recado,
o meu corpo vai protestar,
mesmo que me arranque a língua,
eu tenho uma voz,
e ela vai chegar até você.

Meu protesto fica aqui,
ele é claro,
não quero ter que morrer pra
estar em paz.

Na minha lápide eu quero escrito:
 "Ela está no seu paralelo,
o mesmo estado de paz
em que viveu."

Eu não quero suas drogas
injetadas nas minhas veias,
eu quero incensos e quero música,
eu não preciso de companhia,
mas você é bem vinda
se quiser ficar.

                           Ingrid Nogueira.