quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

As palavras sumiram
Escrever dói, sabia?

Dói por te colocar na frente do espelho
Por te fazer colocar pra fora
E é aí que a realidade não pode ser fingida

Dói por ser o famoso tapa de luva
Por te fazer ver, além de saber
Te faz sentir muito mais que calar

E calar é a tentativa de tapar a ferida
De estancar o sangramento que continua
A rolar e afogar seu interior

Escrever é mais que só falar
É se obrigar a nadar
A dar sempre a próxima braçada
Mesmo que seus músculos todos dêem sinais de que não suportam mais

Porque é nessa hora
Que a palavra te mostra a força que têm
É aí que ela te obriga a se salvar

Escreve pra viver
E mais que isso
Escreve quando não mais quiser viver
Quando não suportar estar vivo
Nessa hora, redige quase um livro

A palavra te invoca
Pra escrever
Pra reviver
Pra sentir
Pra doer
E lembrar de respirar
Lembrar da dor
Lembrar do choro
Do choro de alegria também
Lembrar que dói,
Mas que pode fazer bem

Escrita é alegria
Mas também é choro
É voz, mas também é silêncio

É tão oposto
Que chega fazer gosto
Quando se pode olhar
Enquanto alguém escreve
Expresso o sentimento no rosto

Escrever transparece

E às vezes a gente se recusa a olhar
A gente tem medo da gente
Medo da gente mesmo se decepcionar

Ingrid Nogueira