terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Naquela Noite

 Entrei no clube aquela noite,
e lá estava ela, linda...

 Dela não sabia nem o nome,
mas a via todas as vezes em que
ia ao café da rua Trinta.

 Naquela noite estava mais radiante,
nunca havia visto ela dançando,
seus sorrisos, quando os via,
eram apenas esboços forçados,
seguidos de um longínquo _ Obrigada!

 Mas dessa vez os vi recheados,
plenos de tanta alegria.
 Não pude me conter e
decidi que iria conhecê-la,
e quando o fiz, já me encontrava,
sem perceber, no meio do caminho,
indo em direção à ela.

 Me recebeu com o mesmo sorriso
do resto da noite,
como se não prestasse atenção
nas vezes em que nos encontramos anteriormente,
e não a culpo,
somos muitos, digo nós, os clientes daquele café.

 Não soube deixar de olhá-la durante
toda a noite.

 Meus amigos disseram que não
podiam me entender, que era como todas as outras...
mas pra mim não!
 Ela era um anjo...

 E não haveria opinião "sensata" aquela noite
que me pudesse fazer desistir...

 Mas envergonhei-me mais essa vez...
e passei mais uma noite sem a mulher
que vestia meus sonhos.

 Mal sabia ela a intensidade do meu desejo.
E delirei mais essa vez, mais esse copo,
e depois mais três taças...

 Fui, como um imbecil sem coragem,
falar-lhe já bêbado,
agi feito idiota.

 Ela com certeza não iria querer me ver mais.

 E na próxima semana não tive coragem de
voltar àquele café,
não pude fazê-la passar tanto constrangimento.

 Mas depois de exatamente um mês,
finalmente tomei coragem e entrei no café...
quando comecei a falar, ela me olhou nos olhos,
me tirando toda a altivez que ainda restava...
como quem nunca houvesse passado por mim,
se desculpou no lugar de uma bela bofetada,
que bem me era merecida...

_ Desculpe senhor, não é possível que se consiga redenção aqui, neste lugar eu não decido... Essa noite, naquele clube nos falamos...

Ela como um anjo,
me foi doce, mesmo depois do tratamento imbecil que lhe havia oferecido...

Concordei e naquela mesma noite,
nos encontramos naquele mesmo clube,
ouvimos as mesmas músicas,
ela ouviu o mesmo pedido de desculpas,
agora melhor elaborado...

Nos distraímos, dançamos e
nos beijamos...
era aquela, a primeira noite do resto
das nossas vidas juntos...

Até q ela se cansasse da minha ignorância, do meu braço que nunca dava à torcer...

E por mera coincidência do acaso,
ela ainda não se cansou...
E já se passou toda a vida,
os filhos cresceram, os netos vieram,
e hoje o esquecimento bate à porta da lembrança...
e ela, como naquela noite,
aceitou a dança...