Eu estou aqui me afogando,
e você não está aqui pra ver...
não teve a coragem de vir
e me arrancar desse buraco...
que ficava de fora do turbilhão,
enquanto aquilo tudo me corroía...
eu fingia que gostava,
porque eu sabia que estava me envolvendo,
e eu tinha medo de assumir pra mim mesma...
e agora você não me responde mais,
não me escuta te chamar...
e você não quer ver essa cena,
com medo de se atolar comigo,
e eu te entendo...
fui eu quem te fez ir embora,
e não deveria te fazer pensar em voltar...
não quero te atrapalhar,
juro que tudo o que eu preciso de você,
de te abraçar,
de me sentir segura...
é o meu silêncio quieto,
é os braços quentes que me fazem sentir segura...
e a paciência que te fiz perder,
e o amor, e o tempo que te fiz desperdiçar...
e que provavelmente não deveria falar comigo,
e que eu sempre te faço estragar as coisas...
por que esse buraco onde eu me enfiei
já está quase cheio,
e eu não chamei ninguém que me pudesse ouvir,
eu vou morrer sem glória,
sem plateia (o que é irônico, já que eu
sempre encenei muitas mortes,
e morrer assim é frio, e inglório,
e fétido, e feio, e triste...),
e se eu vou mesmo pro inferno,
como e sempre ouço, não quero não ter o seu perdão,
não quero te levar pra lá,
não posso te deixar sofrer mais uma vez,
e tanto por minha causa...
nem com os seus Orixás,
nem com a sua nova mulher,
e nem quero te foder pra te levar
acorrentada pelos pés junto comigo pro Inferno...
e estou cansada de te ver sofrer e ter toda essa culpa.
sussurram, e às vezes urram o seu nome
Acho que é uma prévia do Inferno,
e algumas delas ás vezes discorrem com detalhes,
aquelas vezes todas em que eu te torturei,
e sabia, e não conseguia fazer diferente...