sábado, 8 de outubro de 2016

E tinha os pensamentos atormentados por ela
todas as noites,
e todos os dias,
e todas as horas,
em todos os lugares,
em todas as referências...

Não havia cheiro que não lhe fosse conhecido,
e que não lhe fizesse lembrar dela...

E não havia outra luz que
não projetasse na parede,
ou no chão,
a imagem da sua mulher,
que por agora lhe era ex,
tinha-se ido...

E então se despediu,
mais uma vez,
como sabia que faria novamente
na próxima esquina,
 e na outra,
  e na outra,
   e na outra...
Pelo resto da vida,
até ela não voltar mais.

E enlouqueceu,
assim,
sem nem um pio...

Se absteve de emitir sons,
e assustar as outras pessoas
que naturalmente não a viam...

Ela nem estava mais ali,
ela nem queria mais voltar,
e sabia que ela ia morar distante,
e sabia que ela não mais ouviria a sua voz,
não viu mais motivos pra falar,
nem pra cantar,
vivia pelos cantos,
sussurrando,
cantarolando baixinho,
como se cantasse segredos,
(e realmente os cantava, só pra ela)...

Carregava longas conversas,
construía longos diálogos,
e idealizava um mundo com ela,
e em todas as paredes,
instalava barras imaginárias,
para que ela dançasse,
e se apoiasse,
como só havendo os dois naquela sala,
no último ensaio,
entre suas últimas palavras...

Gostava de reviver,
e de pensar que aquele momento,
era realmente, eterno.

Até definhar,
só,
triste,
vago,
frio,
nu,
vazio,
magro,
sem brilho no olhar,
sem um olhar,
sem voz,
até descobrir que ele mesmo
já não estava ali...

                                  Ingrid Nogueira.

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