domingo, 3 de dezembro de 2017

Dona de Saturno

As sardas que carregas na pele,
o sorriso que te enche o rosto
e transborda os olhos...

Ela é Larissa,
e não tem qualidade
que possa contemplá-la
por inteiro.

Ela é,
essa é a melhor
forma de descrevê-la.

Sua paixão a faz,
e ela é, nisso,
sublime.

Traz no peito,
o Universo suspenso.

Ela é dona de Saturno,
e traz o anel bamboleando nos olhos,
mas não sabe.

Tem nas mãos as torrentes,
as tempestades que Iansã dá,
e as contém no peito,
ela segura seus trovões
dentro de si.

Ela carrega a floresta
na cor dos deus olhos,
na textura do olhar
que ela sabe,
não demora nada pra marcar.
         
                                   Ingrid Nogueira.
Dentro de mim
mora alguém diferente,
alguém apaixonado,
que sobressai a mim
de vez em quando.

Esse alguém surge
quando te vê,
e me toma
os pensamentos e as mãos.

Eu tenho um poeta
que mora dentro de mim,
num quarto triste,
de paredes mofadas,
em cuja janela está
sempre chorando,
mesmo que o sol aqui fora
me castigue a pele,
e sua luz ás minhas retinas.

Eu tenho alguém morando aqui dentro,
que é apaixonado por você.

E quando você passa,
acorda e me toma o lugar.

Você desperta
alguém melhor em mim,
alguém que ama,
que faz meus olhos brilharem,
que usa as minhas mãos.

Você desperta minha criatividade,
e ela sabe como usar a inspiração,
o momento em que te vejo,
o cheiro,...

Esse alguém sabe decor,
todos os seus detalhes,
e faz uso de todos eles,
compondo um acorde,
um poema,
uma sinfonia...

Cria,
de você,
tudo o que ainda não existe,
só pra te mostrar que está aqui,
pra te fazer enxergar
tudo o que em mim você desperta
e o meu alguém racional não sabe dizer.


                                              Ingrid Nogueira.
Me dê atenção.
Eu não quero ter que brigar por ela,
e nem parecer uma criança,
irritante e pirracenta,
puxando a barra da sua calça,
pra que você olhe pra mim.

Estou saindo da sua vida,
e espero que te abra espaço,
e que cresça.

Isso aqui não é o útero da mamãe
e a vida não vai cuidar de você.

 Ingrid Nogueira.
Eu me sinto sumir da sua vida
aos poucos,
e isso dói demais.

Eu me sinto perder a graça,
perder a cor,
eu sumo e não faço falta.

Não te dói mais me ver ir,
é o que eu vejo nos seus olhos,
sua expressão não me mente...

Você não me toca mais,
e quando o faz,
a sua mão me faz derreter,
eu inteira fico suada,
estremeço e sumo.

Eu sumo aos poucos da sua vida,
e escorro nas suas mãos,
entre os seus dedos...
eu sangro,
escoo, e deixo de ser.

Você se vai aos poucos,
eu sinto e fico,
não por querer,
mas por me faltar reação.

Eu me lembro de uma cena parecida,
de ter presenciado essa cena,
de protagonizar essa cena,
eu vivi essa cena,
eu morri nessa cena,
escoei pelos olhos,
eu era palidez inteira,
nem nos meus olhos havia cor,
era calor,
mas de repente meu corpo inteiro estremeceu,
um frio súbito,
fui pro paralelo,
mas nem lá me sentia em segurança,
a morte me perseguia,
eu parei de sentir.

Eu fingi que era brincadeira,
ou mentira,
que não era comigo até...
mas a dor me fez ver
o quanto verdade era.

Esfriei.

                      Ingrid Nogueira.
Eu ouço Nina
e me recordo do nosso amor puro,
quase iludido...
Eu não tinha nada,
e você me deu parte do que possuía,
e me lembro também de como eu
não tinha nada,
e você cuidava de mim,
como se eu tivesse carregando o seu mundo.

Eu não soube valorizar,
e não soube te amar,
não fui o bastante,
eu não era tão madura
quanto você precisava que eu fosse.

E agora eu só posso deseja a sua
felicidade...

Me perdoa mulher,
eu era tanta metade,
que não pude te ser inteira,
não pude te amar inteira,
não havia nada que pudesse dizer,
ou fazer.

Só me perdoa.

Meu coração não tinha crescido,
e acabei te sufocando.
Eu te machuquei,
e ão era a intenção.

Eu te matei,
mas você voltou a brotar,
e isso me deixou feliz,
mesmo que não tenha sido
por mim.

Eu avisei,
eu nunca vali a pena,
e não era por querer,
eu te amei,
mas não era o bastante.

                        Ingrid Nogueira.

Carta de Despedida

Desejo todo o amor,
e todo o companheirismo
que eu tentei,
mas não consegui te dar.

E te desejo também toda a liberdade
e companhia, todo o beijo e todo o abraço,
todo o carinho, amizade e amor que não me
senti capaz o bastante pra te ofertar.

Desejo toda a experiência,
todas as companhias, todas as presenças falhas
que você um dia desejou.

Eu não sirvo pra escrita contemporânea,
minha caneta sente, minha tinta é lágrima.

Eu não posso te oferecer um texto frio,
totalmente culto,
sem erros gráficos ou sentimentais.

Houveram muitas lágrimas
enquanto eu pensava em te deixar partir.

Mas eu não te farei infeliz
porque ainda quero a sua companhia,
por te amar eu sei que
um de nós tem que ser feliz,
e eu é que sou a poeta aqui,
sou eu quem está destinada à sofrer.

         Ingrid Nogueira.

Eu sou toda um mar.
Sou um mar denso,
e ainda assim ela me penetra,
ela decide me desbravar.

Eu não me conheço a mim,
mas ela me penetra.

Cheia de coragem essa mulher,
que toma todo o ar que pode,
pra entrar num lugar,
que ela bem sabe,
não vai deixá-la respirar.

Eu sou sufocante,
eu mesma morro aos poucos
quando decido mergulhar em mim,
mas ela gosta desse meu risco,
e ela se arrisca nessa possibilidade
de uma não volta.

Ela tem consciência da minha densidade,
e sabe que mal vai conseguir se mover,
e então ela abre mão dos seus
braços e pernas.

Ali, pra ela,
de nada interessa o movimento,
e de nada interessa o ar.

Ela não quer me deixar,
mas e quero vê-la viver,
e eu sei que a mato aos poucos.

Então expulso-a daqui,
jogo-a pra fora de mim,
e eu ão posso dizer se é amor.

Amor é mesquinho,
e eu não.

Eu não amo,
o amor é ruim,
ele faz definhar,
e suga tudo,
ele suga a vitalidade,
e seca o coração.

Ela tem cheiro de incenso.
E é o que me fica dela,
toda vez que se vai.

O meu mundo tem o cheiro dela,
mesmo que eu finja não perceber,
quando ela se vai e eu fico a sós,
eu só penso em como guardar isso.

Porque eu não quero dizer,
eu não quero morrer,
e o amor mata,
eu amo, mas não quero ouvir de mim.

Ela vai me matar,
e vai se matar,
estou à beira de aceitar.

O suicídio está sendo desenhado,
em duas cores nós o pintamos,
e o aceitamos.

A dança das cadeiras
se converte em tintas,
eu não tenho mais canetas,
e a dança se alonga pelo salão,
que é a tela,
que sou eu.

Ela decide ficar,
e se dilui em mim
aos poucos.

Eu morro e renasço,
parte dela,
parte minha,
ela me transforma,
eu opto por não voar.

Ela é meu cárcere,
e o amor me mata,
novamente e  aos poucos.

Eu me deleito
em morrer,
porque ela assiste.

                    Ingrid Nogueira.