domingo, 3 de dezembro de 2017

Eu sou toda um mar.
Sou um mar denso,
e ainda assim ela me penetra,
ela decide me desbravar.

Eu não me conheço a mim,
mas ela me penetra.

Cheia de coragem essa mulher,
que toma todo o ar que pode,
pra entrar num lugar,
que ela bem sabe,
não vai deixá-la respirar.

Eu sou sufocante,
eu mesma morro aos poucos
quando decido mergulhar em mim,
mas ela gosta desse meu risco,
e ela se arrisca nessa possibilidade
de uma não volta.

Ela tem consciência da minha densidade,
e sabe que mal vai conseguir se mover,
e então ela abre mão dos seus
braços e pernas.

Ali, pra ela,
de nada interessa o movimento,
e de nada interessa o ar.

Ela não quer me deixar,
mas e quero vê-la viver,
e eu sei que a mato aos poucos.

Então expulso-a daqui,
jogo-a pra fora de mim,
e eu ão posso dizer se é amor.

Amor é mesquinho,
e eu não.

Eu não amo,
o amor é ruim,
ele faz definhar,
e suga tudo,
ele suga a vitalidade,
e seca o coração.

Ela tem cheiro de incenso.
E é o que me fica dela,
toda vez que se vai.

O meu mundo tem o cheiro dela,
mesmo que eu finja não perceber,
quando ela se vai e eu fico a sós,
eu só penso em como guardar isso.

Porque eu não quero dizer,
eu não quero morrer,
e o amor mata,
eu amo, mas não quero ouvir de mim.

Ela vai me matar,
e vai se matar,
estou à beira de aceitar.

O suicídio está sendo desenhado,
em duas cores nós o pintamos,
e o aceitamos.

A dança das cadeiras
se converte em tintas,
eu não tenho mais canetas,
e a dança se alonga pelo salão,
que é a tela,
que sou eu.

Ela decide ficar,
e se dilui em mim
aos poucos.

Eu morro e renasço,
parte dela,
parte minha,
ela me transforma,
eu opto por não voar.

Ela é meu cárcere,
e o amor me mata,
novamente e  aos poucos.

Eu me deleito
em morrer,
porque ela assiste.

                    Ingrid Nogueira.

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