segunda-feira, 21 de novembro de 2016


 Eu estou aqui me afogando,
 e você não está aqui pra ver...
 Eu me escondi e você
não teve a coragem de vir
e me arrancar desse buraco...
 Você sempre foi a minha metade
que ficava de fora do turbilhão,
enquanto aquilo tudo me corroía...
 E eu gostava da dor,
eu fingia que gostava,
porque eu sabia que estava me envolvendo,
e eu tinha medo de assumir pra mim mesma...
 Por causa do medo eu te fiz ir embora,
e agora você não me responde mais,
não me escuta te chamar...
 Eu não estou segura,
e você não quer ver essa cena,
com medo de se atolar comigo,
e eu te entendo...
 Não te culpo,
fui eu quem te fez ir embora,
e não deveria te fazer pensar em voltar...
 Eu sei que te machuquei,
não quero te atrapalhar,
juro que tudo o que eu preciso de você,
de te abraçar,
de me sentir segura...
 E você é esse meu lugar,
é o meu silêncio quieto,
é os braços quentes que me fazem sentir segura...
 Perdoa a imaturidade,
e a paciência que te fiz perder,
e o amor, e o tempo que te fiz desperdiçar...
 Eu sei que você está em tratamento,
e que provavelmente não deveria falar comigo,
e que eu sempre te faço estragar as coisas...
 Me diz que me perdoa,
por que esse buraco onde eu me enfiei
já está quase cheio,
e eu não chamei ninguém que me pudesse ouvir,
eu vou morrer sem glória,
sem plateia (o que é irônico, já que eu
sempre encenei muitas mortes,
e morrer assim é frio, e inglório,
e fétido, e feio, e triste...),
e se eu vou mesmo pro inferno,
como e sempre ouço, não quero não ter o seu perdão,
não quero te levar pra lá,
não posso te deixar sofrer mais uma vez,
e tanto por minha causa...
 Só não me deixa outra vez te foder...
 Eu não quero te foder com Deus,
nem com os seus Orixás,
nem com a sua nova mulher,
e nem quero te foder pra te levar
acorrentada pelos pés junto comigo pro Inferno...
   Eu amo você,
 e estou cansada de te ver sofrer e ter toda essa culpa.
 Vozes na minha cabeça gritam,
sussurram, e às vezes urram o seu nome
 Acho que é uma prévia do Inferno,
e algumas delas ás vezes discorrem com detalhes,
aquelas vezes todas em que eu te torturei,
e sabia, e não conseguia fazer diferente...
 Me perdoa a estupidez...
            Ingrid Nogueira.