quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Poeira de luar

Havia uma criança de olhos esbugalhados,
quase que saltando pra fora dos olhos...
(ela queria fugir por eles,
ali mesmo)
Ela era uma menina tão doce,
mas queria conhecer a minha alma.

E já conhecia meus medos
sem nem me tocar,
ela tinha uma força
que a acompanhava,
e eu não entendia.

E invadiu meus pensamentos
quando fui embora dali,
ela não me deixou,
e estava em todos os lugares,
impregnou na minha mente,
seus olhos eram negros,
e profundos,
me carregaram pra sua escuridão,
e deixou que eu conhecesse.

Ela me mostrou os aposentos
sem que neles eu me encontrasse,
ela me transportou pra outra dimensão,
ela me levou,
me fez dar passos cada vez maiores,
e eu não sentia,
mas corria dentro daquele caleidoscópio,
aquele lugar que me era incomum.

Eu revi o momento,
agora eu sei quando foi que aconteceu.
Foi quando ela tirou
aqueles óculos escuros,
que a distanciavam de todos presentes ali,
Foi nesse momento
em que ela me penetrou a alma.

Ela gravou alguma coisa na
minha alma,
meus olhos não eram mais iguais,
minhas cores mudaram,
mas quando eu olho no espelho
eu não consigo ver,
eu não sei o que mudou,
mas eu sinto que mudou,
e ela sempre está nos cantos agora,
em todo lugar aonde eu vou,
como se conhecesse meus costumes.

Aquele olhar dentro do meu
me perturbava,
eu precisava encontrá-la
pra poder devolver-lhe a parte
que me houvera sido doada,
eu não soube lidar com tanta presença,
e foi acontecer logo comigo,
que estou acostumada com a solidão.

Mas ela não queria ser encontrada,
ela queria estar ali,
ao meu lado,
e pra mim ainda é estranho.

Eu nunca fui desejada
e ela me fez sentir viva,
e de repente seus olhos
abriam nos meus,
eu via a sua janela se abrir,
ela me acompanhava em sonhos.

Mas eu nunca ouvi a sua voz,
era reservada,
e sabia do seu valor.

Ela me entregou o seu
olhar,
a sua beleza,
sem oferta de troca,
sem nem haver interesse,
ela se expôs pra mim,
em silêncio,
e eu a toco,
sem que ninguém saiba.

Hoje ela é uma mulher,
e vive guardada nos meus labirintos,
ela nunca me pertenceu,
mas fazia questão de permanecer presente.

Ela dividiu silhueta com a lua,
e me deixou ver,
me deixou entender suas relações,
ela é do escuro,
ela não tem idade,
nem data,
ela é e não há nada que a desfaça,
ela é infinita,
e o meu amor,
hoje, é mais.

Eu amo uma mulher que
é sombra no luar,
ela é silhueta,
e seus olhos são
de um castanho negro,
aquele que inspira
mistério,
ela é e não prova,
ela ama,
e não tem medo de mostrar.

Eu amo a poeira do mar,
eu sou o vento que a faz voar,
em constante risco de diluir,
ela escolheu me confiar
tal cuidado,
ela confiou a mim a sua vida,
a sua frágil existência,
Hoje eu zelo pela poeira que faz o mar brilhar.

Eu amo a substância,
eu sou essência,
e não me desfaço
nem se cansar.

                    Ingrid Nogueira.

Carta de Despejo ou Término ou Túmulo

Eu sei que existe entre nós
um jogo de orgulho,
e eu sei que você
não me procuraria.

Meu bem,
eu vim em paz,
e não quero causar-lhe dor,
eu vim te olhar nos olhos,
eu preciso dizer que te amo,
e que sinto muito,
pela dor necessária,
mesmo que não intencional.

Não diga nada,
só não me mande embora,
eu preciso te dizer que
hoje eu te entendo,
eu entendo os seus motivos,
e os seus sentimentos.

Me perdoa por fugir
como eu fiz,
mas eu não sabia por onde seguir.

Hoje eu sei onde estou,
e entendo que preciso
reparar alguns erros do meu caminho.

Você é quem mais me doeu magoar,
e eu quero que me ouça,
não precisa dizer nada,
só me deixe ficar,
eu preciso desse momento
só com você.

Eu sei que você,
daí do outro lado da mesa,
treme.
Mesmo que por dentro,
mesmo que só na alma,
e não é necessário que assuma em voz alta,
seus olhos se perderam ao som
de cada palavra que eu
acabei de proferir.

Eu tenho que acabar com isso,
então não me mande sair,
eu vi a sua mulher lá fora,
e querida, que mulher!
eu ainda não sei
o motivo de ela cativar certo
ódio por mim,
mas sei que ela quer te proteger.

Eu estou aqui desarmada,
não aponte a sua arma contra mim,
não gaste a sua mira,
eu vim com bandeira branca,
só não me mande sair antes
de falar tudo a você...

Eu te amo
mesmo que ainda não me acredite,
e mesmo que arranque uma parte
de você quando me ouve,
mesmo que te faça
escorrer a alma pelo olhos,
e que seu corpo se aqueça rapidamente,
a ponto de fazer evaporar o álcool
do vinho que você acabou de impelir.

Mesmo que você
não queira acreditar,
eu não vim reacender sentimentos
que hoje estão abaixo do zero,
eu vim perdoar a minha alma,
eu estou indo,
e mesmo que queira me seguir,
não o faça,
ela é a melhor opção
que você pode fazer,

Não me siga,
que meus caminhos são frios demais,
eles são sombrios,
foi a sentença a que você me condenou,
e eu tomei gosto,
meus caminhos são sozinhos demais,
e assim eu não posso te fazer sofrer,
eu vim pegar a sua cópia da minha chave,
lá não é lugar pra você,
e eu sei me virar sozinha meu bem.

Eu vim te deixar
livre de qualquer obrigação
comigo,
eu nunca quis ser o seu fardo,
e eu escrevo,
especialmente hoje,
pra te deixar ciente
de que eu não estou mais aqui,
mesmo que ainda por perto,
mesmo que ainda te conservando carinho,
eu não te vejo mais,
minha alma se fechou,
e esfriou,
eu escureci por dentro,
eu não carrego uma alma,
pra deixar que a sua seja livre.

     Eu amo você,
      mas meu coração deixou de pulsar,
        as córneas palideceram,
         o corpo esfriou,
          O amor JAZ,
           Do meu lado.


                   Ingrid Nogueira.