quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Não sei amar com os olhos

Ela me olhava daquele jeito,
mas eu não entendia o porquê
eu nunca soube o porquê

E ás vezes seus olhos
me atravessavam,
eles pareciam me partir ao meio,
e me vasculhar a alma.

Mas ela não parava de me fitar
com aqueles olhos grandes...

Ela tinha um olhar
de bruxa,
ás vezes de cigana,
Seus olhos eram frios,
e não tinham cor,
muitas vezes eles eram pálidos.
E já os vi escorrer,
era como nascentes que
congelam completamente
quando chega o inverno.


Os olhos dela ás vezes
me faziam queimar,
eu via as chamas surgindo neles,
e me sentia queimar
nesses dias, o que deles escorria
era como a vela derretida,
e deixava um caminho endurecido.

Aquela mulher sabia como me
deixar enlouquecida,
ela me fazia arder os ossos.

Não apetecia nenhum outro olhar.

Mas ela não parava de me fitar
com aqueles olhos vidrados.

Mas ela não parava de me fitar
com aqueles olhos perdidos.

Ela não me deixava ter lugar,
eu nunca mais senti paz,
e precisava daqueles olhos em mim,
todos os dias,
na minha pele,
eu precisava das discussões caladas
que tínhamos em olhares.

Ela me fitava,
com aquele olhar de loba em caça,
eu me via presa,
e não sabia negar seus pedidos.

Ela me olhava com olhar de lava,
e me consumia,
sem me dar tempo de fugir,
seu calor me aquecia,
me derretia,
e logo em seguida já não mais haviam forças,
restavam apenas cinzas.

Ela tinha um repertório de olhares
pra me fitar,
pra me consumir,
pra me congelar,
pra me caçar,
e ela fazia de mim o que bem entendia,
porque eu era tão vulnerável,
o meu amor me deixava vulnerável,
ela tinha certo poder sobre mim...

Mas um dia,
ela decidiu não mais
me olhar nos olhos,
blêf, eu descobri a traição,
o espetáculo se encerrou,
ela me arrancou os olhos
minha alma foi junto,
e eu não sei mais o que eu vejo,
meus olhos não vêem,
estou cega,
meu coração não vê,
eu não tenho termômetro na alma,
eu sinto sortidamente,
e não há remédio pra isso,
eu não posso controlar.

Eu não tenho olhos,
e machuco outras pessoas,
não é por mau,
eu não sei olhar dentro de outros olhos,
meus olhos, cegos,
doem, fogem do contato,
se escondem,
repelem  qualquer tentativa.

Eu não sei amar com os olhos,
eu não sei dizer com os olhos,
eu preferi desaprender...

Meus olhos congelaram,
eles escorreram,
e esfriaram, congelaram,
como assim desejaram,
eu não pude negar tal desejo,
autoproteção.


Ela ainda me fita,
mas os meus olhos deixaram de existir.



               Ingrid Nogueira.

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