quarta-feira, 25 de julho de 2018

Era um pacote duro e frio,
 que estava ali...
Era noite.
E pela manhã, o socorro chegou.
 Mas era tarde já,
Jogado no canto da calçada estava,
 Foi ali que o encontraram..
Coitado corpo,
 Cortado o corpo,
E por toda a noite eu o vi...
Eu o assisti desde o começo,
 Eu testemunhei o início,
E foram dias cheios,
 Dias longos,
Foram quentes os seus dias...
E eu testemunhei o fim também...
Mas ninguém me viu por aí...
 É que quando a gente desgarra do corpo
As pessoas costumam mesmo não ver.
Mas aquela moça me viu,
 Ela me sentiu,
E sentiu, e viu...
 Me deixou mostrá-la o que comigo se passou.
É, eu era o cadáver,
 O corpo morto,
Gélido,
 Frio,
Duro e sem cor...
E antes disso, ela havia me visto,
me deixou me apresentar a ela,
e era a única pessoa que realmente me via,
ela me olhava nos olhos
ela sabia o quanto eu existi...
Foi ela quem me fez realmente existir,
e que me ensinou a não só estar aqui,
e agora eu morri,
e não consigo lhe lembrar os olhos,
sei bem qual é a sensação de tê-los dentro dos meus,
mas não sei mais do formato,
nem da cor...
Mas sei dos dois grandes vazios,
da cavidade que eles formavam dentro dos meus,
pra me entender cada detalhe...

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