quarta-feira, 25 de julho de 2018

Outra Maria


  Maria,
coitada!

 Coitada da pobre mulher
na qual a Maria se tornou...

A rotina,
 a lembrança,
  a memória...
O corpo reclama.

E a cabeça também!
A cabeça principalmente,
reclama e dói,
todos os dias,
sem intervalos,
e não melhora nem com analgésicos...

 É que a dor na cabeça
é de tanto tentar entender os outros,
que também não a entendiam
 (mas as suas cabeças não doíam)...

 E a Maria não entendia...

 Maria não tem ninguém,
ela não tem nem o amigo
que há alguns dias a vinha visitar...

(A solidão dói!)

 Ele também foi embora,
e ela não entendia o porquê,
e não entendia também porque
todos diziam que ela via coisas.

 Maria o via,
e ele existia.
 Era tão nítido,
porque os outros insistiam em dizer
que ele não existia?

 Maria estava velha,
e sozinha,
não tinha filhos,
e nem amor
Maria não sabia o que queria,
não era nem uma velha ranzinza...

 Maria nunca soube o que fazer,
e nunca soube o que falar,
 Maria emudeceu ao ver que
a vida é grande demais...

 Ela passou a vida inteira
calada, quieta,
o silêncio era quente,
era aconchegante,
era o lugar onde ela se sentia acolhida.

Foi então que o seu amigo veio,
quando Maria abraçou o silêncio,
porque ele também era segredo,
assim como a felicidade,
e a dor...

Maria era fã das coisas secretas,
ela era agora uma mulher dos segredos,
das coisas pagãs,
e místicas,
e reais o bastante para doerem.

Maria via,
e sentia,
e sofria,
mas caladinha,
nos sonhos...

Maria não queria que fossem sonhos
e ela não chorava.

Estagnada,
era como ela definia
uma pessoa que não sabia ficar em silêncio,
Maria matava as pessoas que eram estagnadas,
não na sua cabeça,
Maria andava um tanto assassina

Então foi internada,
e morou no silêncio
até não mais morar.

Ingrid Nogueira.

Nenhum comentário :

Postar um comentário