sexta-feira, 1 de maio de 2015


 Eu nunca havia dito nada sobre isso à ela. Talvez porque pensasse que era cedo demais, ou que iria duvidar e até mesmo não aceitar. Talvez foi por vergonha ou por orgulho mesmo... Não sei bem porque foi que não disse antes, o que eu sei é que não posso mais guardar só pra mim, e mesmo com ela já em outro país, com sua vida completamente reconstruída, eu preciso falar. Mesmo que seja tarde demais, mesmo que não me ame, mesmo que sofra de Alzheimer e por isso de mim haja se esquecido, ou que tenha sido por ódio. Mesmo que nunca chegue às suas mãos, mesmo que ela nunca leia:

 Quando ela chegou na minha vida,
entendi o motivo de ter havido outras.
 No momento em que ela vinha surgindo
lá na porta daquele bar,
foi-me apagando um a um os rostos de antes,
como se tivesse me criado, amadurecido,
aprendido em relacionamentos entre eu e
manequins, pessoas mascaradas,
mulheres sem rosto.
 Como se tudo antes fosse uma preparação
para não fazê-la chorar.
 Só agora entendo que não deveria haver
nenhuma mulher depois dela,
o tempo me preparou para não deixá-la passar,
para que não a deixasse ir.

                                     Ingrid Nogueira.

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