terça-feira, 10 de setembro de 2019

Seu saudosismo gritou essa tarde
Erros constantes

Cuidado com a força com a qual
Tem se exposto
Não é bom pra sua imagem

A saudade às vezes acontece
Mas vai com calma aí

Você me fez doer muito
E eu não selecionei o que apagar
Seus detalhes bons também fugiram
E não me dói
Nem bem nem mal

Suas palavras afiadas
Pra iludir com amor
Ou machucar pela sinceridade bruta demais
Já não me tocam

Seu grito é a quebra do vidro
E depois dele,
Só a brisa

Ainda bem que você gritou
Depois da sua partida
Que já era esperada
O vento tem cantado
Na minha janela
E é uma canção linda
De liberdade
Sem feridas disfarçadas

Seus estilhaços ainda ficaram no chão
E às vezes brilham no meu teto
É engraçado
Porque não tem cor
É pálido demais
Como o amor que você me ofertou

Você era vidro pálido
Fosco
Sem cor
Sem transparência
E vidro assim me incomoda
Eu gosto do que é transparente
Do que não tem o que esconder

Quando você quebrou
Era bailarina de vidro
E virou pó
Não me doeu

Porque você deixou de existir
Quando decidiu não estar ali

Seus traços
Antes delicados
Como seus passos
Sumiram tão rápido quanto era possível
E então foi ficando sem forma
Assim como as lembranças
Até sumir

Não me doeu
Porque já não enfeitava
A casa de dentro

Ainda bem que eu fui distração
E ainda melhor que eu decidi ir
Porque eu sempre estranhei o fato
De você não projetar as cores
Ao ser atravessada pela luz
Mas é que tem tanta etapa antes disso
E seu arco-íris ainda tem poucas cores

E não te culpo por não colorir
Te culpo pelo lápis branco
Te culpo por fingir
E mais ainda
Pelo que você encenou ser

Eu culpo pelas mentiras
E ainda mais pelas dores consequentes
Pelas palavras inconsequentes
E pelos sorrisos profanos
Deu quem engana e não se dói

Essa tarde seus gritos foram estridentes demais
Mas eu juntei seus cacos e os calei
Coloquei numa caixa de papelão
Pra que não machuque mais ninguém

Se engana se pensa que guardei de lembrança
De você a mínima lembrança é dolorosa
Eu enterrei bem longe
Pra ninguém encontrar e correr o mesmo risco que eu corri
Eu também quebrei,
Estorei e escorria
Alimentei meu campo
E reflori

Te escondi
Por não merecer o brilho do dia
E menos ainda
A brisa que chega à noite

Nenhum comentário :

Postar um comentário