A morte tem passado perto
Eu sinto todos os dias os pingos gelados Daquela face molhada
Em volta de mim
Todos os ventos gelados anunciando
Que ela está pra chegar
Meu aconchego acaba a cada sensação
De que ela me vê
Cê tem noção do que é sentir o frio na espinha
De saber que a qualquer esquina
Ela pode te topar?
Eu não piso em falso
Toda vez que ela cisma de aparecer
O corpo estremece
Arrepia
As retinas doem
Ressecam
É quando me vem a ansiedade
Quando o peito chora calado
E o cérebro perde o rumo
A dúvida do fim paira
E então o silêncio
Eu não sei conversar comigo
Não nesse momento
Eu me calo toda
Calo por que eu sei que dói
São memórias minhas
E dores compartilhadas
E tenho sentido muito
Cada partida
Da morte
Pra ter certeza que a partida não foi a minha
Nem que aceitei um passeio pelo meio dos carros
De mãos dadas com ela
Essa dança eu não quero dançar agora
Prefiro a da corda bamba
Até que eu caia
Pra que ela me ampare
No colo
Sem dor
Num espetáculo silencioso
E bonito
Que seja íntimo
Que essa dança então grite
Todas as coisas que tenho silenciado
No peito
A morte tem derretido
Pela ideia do que é passageiro
Mas ela está impregnada aqui
E seu cheiro confirma
Há tempos ela me dói
Me arranca lágrimas
Que estava guardando pra felicidade extrema
A morte não se compadece de mim
E me dói
Essa noite choveu
Só em mim
Ela me olhou fundo nos olhos
Eu chovi
Me derreti inteira
E respinguei
Trouxe meus pés cansados
E um caminho arrastado
Pra tentar fugir da afirmativa
Porque eu tive medo
Mas calei
Porque eu tive frio
Mas sorri
Porque a ideia da morte me escorre
Por entre os dedos
Assim como o gozo
E por entre os pensamentos
Assim como a do amor
A morte é escorregadia
E dissolve meus momentos calmos
Ela dissolve o cigarro de entre os meus dedos
E o que era quente
Agora congela à simples possibilidade
De que é agora
A morte é calma
E te abraça aos poucos
Ela te deixa ver tudo
Indo embora
E como se você descesse do trem na estação
Você desce dessa viagem
A vida é trem
E cada um tem sua estação
E é tudo tão palpável
Que esperamos não ver
Eu tenho medo da morte
Ao passo que
O coração perde o compasso
E o descompasso dessa dança
É o bom da vida
Mas tenho me encontrado cansada
De fingir confiança
Quando na verdade ando amedrontada
A morte me espera na próxima esquina
E eu dou volta no caminho
Porque eu não gosto do frio
Ingrid Nogueira.
Nenhum comentário :
Postar um comentário