Seu saudosismo gritou essa tarde
Erros constantes
Cuidado com a força com a qual
Tem se exposto
Não é bom pra sua imagem
A saudade às vezes acontece
Mas vai com calma aí
Você me fez doer muito
E eu não selecionei o que apagar
Seus detalhes bons também fugiram
E não me dói
Nem bem nem mal
Suas palavras afiadas
Pra iludir com amor
Ou machucar pela sinceridade bruta demais
Já não me tocam
Seu grito é a quebra do vidro
E depois dele,
Só a brisa
Ainda bem que você gritou
Depois da sua partida
- Que já era esperada -
O vento tem cantado
Na minha janela
E é uma canção linda
De liberdade
Sem feridas disfarçadas
Seus estilhaços ainda ficaram no chão
E às vezes brilham no meu teto
É engraçado
Porque não tem cor
É pálido demais
Como o amor que você me ofertou
Você era vidro pálido
Fosco
Sem cor
Sem transparência
E vidro assim me incomoda
Eu gosto do que é transparente
Do que não tem o que esconder
Quando você quebrou
Era bailarina de vidro
E virou pó
Depois que dancei
Descalça por cima dos pedaços
- Não me doeu -
Porque você deixou de existir
Quando decidiu não estar ali
Seus traços
Antes delicados
Como seus passos
Sumiram tão rápido quanto era possível
E então foi ficando sem forma
Assim como as lembranças
Até sumir
Não me doeu
Porque já não enfeitava
A casa de dentro
Ainda bem que eu fui distração
E ainda melhor que eu decidi ir
Porque eu sempre estranhei o fato
De você não projetar as cores
Ao ser atravessada pela luz
Mas é que tem tanta etapa antes disso
E seu arco-íris ainda tem poucas cores
E não te culpo por não colorir
Te culpo pelo lápis branco
Te culpo por fingir
E mais ainda
Pelo que você encenou ser
Eu culpo pelas mentiras
E ainda mais pelas dores consequentes
Pelas palavras inconsequentes
E pelos sorrisos profanos
De quem engana e não se dói
Essa tarde seus gritos foram estridentes demais
Mas eu juntei seus restos e os calei
Coloquei numa caixa de papelão
Pra que não machuque mais ninguém
Se engana se pensa que guardei de lembrança
De você a mínima lembrança é dolorosa
Eu enterrei bem longe
Pra ninguém encontrar e correr o mesmo risco que eu corri
Eu também quebrei,
Estourei e escorria
Alimentei meu campo
E reflori
Te escondi
Por não merecer o brilho do dia
E menos ainda
A brisa que chega à noite
Não quer dizer que sou má
Só que você ainda não merece
Mas vai que um dia,
De tanto deteriorar
Você entenda o proceso
Que é de alimentar a sua terra
Que é a dor de morrer
Pra só depois
Merecer renascer
E florir.
Ingrid Nogueira.
Resolvi causar certos desconfortos que até ontem eu evitei... A sociedade sempre me impôs regras de "como me portar", "como ser" ... Cansei de toda essa ladainha, não vou mais maquiar, e está decidido! O que me faz ser eu, são as diferenças e aceitações que carrego comigo. Sozinha, resolvida, lésbica, atriz, jovem, e orgulhosa de mim mesma. Sem visar conforto aos leitores, eu sou desse jeito, e não vou me conter para agradar à ninguém. Sejam bem-vindos ao que eu sou!
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