quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Saga

Meus pés caminham sem parar
Num rumo que não tem fim
Caminham pra longe
E vão sozinhos

Minha cabeça flutua
Pra mais distante
Sem rumo
Fria

A espinha não fica ereta há tempos
Não há mais um horizonte
Para o qual olhar
Para o qual seguir

Quando percebo
Os pássaros do caminho
Saem das árvores
E vêm direto para as tripas
Que já estão quase secas

Meus pés começam a se cansar
A sentir o peso do corpo
O peso do tempo

Tudo dói
De pouco em pouco
Enfim,
Fica insuportável

Tudo me tira do sério
Nessa parte do caminho
Grito
Mas grito ao vento

Etapa em que me sinto só
De todas as formas
De todas as pessoas
Sinto a paranóia
Mas sei que ela passa longe
O que sinto na verdade
É intuição
E essa nunca me trai

As facas vão aparecendo no caminho
Cabe a mim decidir o que fazer com elas
Os braços mostram o caminho delas pelo corpo
O que me parece covardia

A exaustão do caminho
Me faz desistir aos poucos
De todas as companhias

As formas de ser
Me fazem ser evitada
E agora surgem vozes no caminho
Estou acompanhada mas não sinto ninguém aqui

Sinto frio de solidão
E o calor, que queima o rosto
Mas não vem do Sol
A ira queima minha pele

Me questiono o porquê não queimo até o fim,
Porquê não morro
Porquê meu corpo não desiste

Essa brincadeira de viver
Ficou sem graça
E cansativa

A partir daqui
Surge um mar
E não quero nadar
Me recuso a
- Depois de tanto resistir -
Mergulhar

Ainda assim não paro
Me obrigo a seguir


Ingrid Nogueira. 

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