quarta-feira, 24 de março de 2021

Eu tô bem no limite

Já passa das 05 da manhã
Rôo unhas
E rôo o tempo

Como se eu fosse a ansiedade
E como se a ansiedade fosse eu

Lugares diferentes
Sensações iguais

Ao mesmo tempo
Sou o rato
Sou o queijo
Sou a faca
E sou a mão

Sou os dentes que roem
E entortam de tanto roer

Sou o cigarro e a fumaça
Sou o pulmão atingido
Sou o corpo prejudicado
Sou o próprio corpo que prejudica

Faço tudo
Não sou nada
Como o tempo
Também sou ele próprio
Que me consome

Sou o estômago que arde
O corpo que aos poucos parte
Quem sai e não se despede
Sou saudade que vai se alocando
Se deixando aos poucos
Sou aquilo que se faz presente
Ainda que invisível

Sou partida
Muito além das chegadas
E sou chegada que proporciona
Partidas lentas e frias

Olhos alagados
O choro travado
Garganta entalada

Triste
Fria
E sem rumo

Sem olhos
Na alma
A visão da alma
Foi cegada

E ver
Me dá saudades

Não durmo
Até o clarear do dia
Pra tentar enxergar
Mas não funciona
E tento sonhar
Até que não tenha mais sonhos
Mas acordo
Como se caísse de um precipício

A insônia
As olheiras
Luis Lins ao fundo
Na mente
"Eu tô bem"
"A música mais triste do ano"
E eu paro de contar
Eu já nem sei mais como contar
As horas
Os anos
As histórias...

E então também
Paro de ouvir
Não escuto nada
Cabeça cheia
E acelerada
Não há o que faça calar
Qualquer coisa dentro de mim
Que me faça reanimar

Então
Me deito
Esperando a vida passar

Então
Fumo
Esperando a vida passar

Então
Não como
E sigo a esperar

Perco as forças
Ando
Esperando não chegar

Então
Me perco
Na tentativa de me achar

Então
Me calo
E espero meu peito gritar

Termino o dia
Antes mesmo de começar
Ouvindo Laura Sette
"Limite"
Para saber onde
Exatamente parar

                        Ingrid Nogueira.

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